Série: 1944-2020, 76 anos de intervenção do Banco Mundial e do FMI (Parte 2)

ABC do Fundo Monetário Internacional (FMI) 

1 de Março de 2020 por CADTM


Em 2020 o Banco Mundial (BM) e o FMI fazem 76 anos. Estas duas instituições financeiras internacionais (IFI), criadas em 1944, são dominadas pelos EUA e mais umas quantas grandes potências aliadas que promovem políticas contrárias aos interesses dos povos.

O BM e o FMI emprestaram sistematicamente a Estados com o fito de influenciar a sua política. O endividamento exterior foi e continua a ser utilizado como instrumento de subordinação dos devedores. Desde a sua criação, o FMI e o BM violaram os pactos internacionais sobre direitos humanos e nunca hesitaram em apoiar ditaduras.

Impõe-se fazer uma nova forma de descolonização, para sair do impasse no qual as IFI e seus principais accionistas encurralaram o mundo em geral. Têm de ser criadas novas instituições. Publicamos aqui uma série de artigos de Eric Toussaint que traçam a evolução do BM e do FMI desde a sua criação em 1944. Estes artigos foram extraídos do livro Banco Mundial: o Golpe de Estado Permanente, publicado em francês em 2006 (edição actualmente esgotada e disponível gratuitamente em pdf).

Em jeito de introdução a esta série, começamos por dois artigos redigidos colectivamente pelo CADTM: ABC do Banco Mundial, seguido de ABC do FMI.


  1. ABC do Banco Mundial
  2. ABC do Fundo Monetário Internacional (FMI) 
  3. As origens das instituições de Bretton Woods
  4. O Banco mundial ao serviço dos poderosos num clima de caça às bruxas
  5. Os conflitos entre a ONU e a dupla Banco Mundial/FMI desde as origens até aos anos setenta
  6. SUNFED versus Banco Mundial
  7. Porquê o Plano Marshall?
  8. Porque não é reproduzível a anulação da dívida alemã de 1953 no caso da Grécia e dos países em desenvolvimento?
  9. A Supremacia dos Estados Unidos no Banco Mundial
  10. Banco Mundial/FMI : o apoio às ditaduras
  11. O Banco Mundial e as Filipinas
  12. O apoio do Banco Mundial à ditadura turca (1980-1983)
  13. O Banco Mundial e o FMI na Indonésia: Uma intervenção emblemática
  14. As mentiras teóricas do Banco Mundial
  15. Coreia do Sul e o milagre desvendado
  16. A armadilha do endividamento
  17. O Banco Mundial apercebe-se da chegada da crise da dívida externa
  18. A crise da dívida mexicana e o Banco Mundial
  19. O Banco Mundial e o FMI: As agências financeiras dos credores
  20. Os presidentes Barber Conable e Lewis Preston (1986-1995)
  21. A operação de sedução de James Wolfensohn (1995-2005)
  22. A Comissão Meltzer sobre as Instituições Financeiras Internacionais no Congresso dos Estados Unidos em 2000
  23. As contas do Banco Mundial
  24. De Paul Wolfowitz (2005-2007) a David Malpass (2020): os homens de mão do presidente dos EUA continuam à frente do Banco Mundial
  25. O FMI e o Banco Mundial em tempos de coronavírus: vira o disco e toca o mesmo
  26. O golpe de Estado permanente do Banco Mundial
  27. O Banco Mundial, o FMI e os direitos humanos

Em 1944 foram criados em Bretton Woods o Banco Mundial e o FMI. O objectivo oficial do FMI consistia em estabelecer um sistema financeiro internacional que regulamentasse a circulação de capitais. Mais tarde tornou-se a principal instituição internacional encarregada de impor políticas neoliberais brutais nos quatro cantos do mundo. É claramente uma organização antidemocrática ao serviço dos interesses das grandes potências e das grandes empresas privadas. A concessão condicional de crédito aos países em dificuldades é um dos seus principais meios de pressão. Em 2019 tinha 189 países membros (os mesmos que o BIRD).

Uma liderança não democrática

A organização do FMI é semelhante à do Banco Mundial: cada país nomeia um governador para o representar, geralmente o ministro das Finanças ou o governador do banco central Banco central Estabelecimento que, num Estado, tem a seu cargo em geral a emissão de papel-moeda e o controlo do volume de dinheiro e de crédito. Em Portugal, como em vários outros países da zona euro, é o banco central que assume esse papel, sob controlo do Banco Central Europeu (BCE). . Reúnem-se no Conselho de Governadores, a instância soberana do FMI, uma vez por ano, em outubro. Este conselho toma as decisões mais importantes (admissão de novos países, preparação do orçamento, etc.).

Para efeitos da gestão quotidiana das missões do FMI, o Conselho de Governadores delega os seus poderes num Conselho de Administração composto por 24 membros. Oito países – os mesmos que no Banco Mundial – têm o privilégio de nomear um administrador: EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Arábia Saudita, China e Rússia. Os outros 16 administradores são nomeados por grupos de países cuja composição pode diferir ligeiramente dos do Banco Mundial.

O terceiro órgão director é o Comité Monetário e Financeiro Internacional (CMFI), que agrupa os 24 governadores com assento no Conselho de Administração. Reúne-se duas vezes por ano (primavera e outono) e tem a função de aconselhar o FMI sobre o funcionamento do sistema monetário internacional.

O Conselho de Administração elege um director-geral a cada cinco anos. A contrapartida da regra tácita em vigor no Banco Mundial manda que esse posto seja reservado a um europeu. De 1987 a 2000, esse cargo foi entregue ao francês Michel Camdessus, que se demitiu no seguimento da crise do Sudeste Asiático. O FMI tinha ido em socorro dos credores que fizeram investimentos especulativos e tinha imposto medidas económicas que provocaram o desemprego de mais de 20 milhões de pessoas, provocando fortes protestos populares e a desestabilização de vários governos. Coube ao espanhol Rodrigo Rato ocupar o posto de director em 2004, vindo a demitir-se em 2007 para integrar o serviço internacional do Banco Lazard, [1] em Londres. Em 2017 foi condenado pela Justiça espanhola a quatro anos de prisão, por desvio de fundos do banco Bankia. Sucede-lhe em 2007 o francês Dominique Strauss-Khan, ex-ministro socialista das Finanças, obrigado em 2011 a demitir-se, após ter sido denunciado como agressor sexual por uma empregada da cadeia de hotéis Sofitel. [2] Em julho-2011 é substituído pela francesa Christine Lagarde, até aí ministra das Finanças. Christine Lagarde compareceu perante a Justiça no caso Crédit Lyonnais, que custou caro aos contribuintes franceses. Lagarde abandonou o cargo em 2019 para se tornar directora do Banco Central Europeu Banco central europeu
BCE
O Banco Central Europeu é uma instituição europeia sediada em Francoforte e criada em 1998. Os países da zona euro transferiram para o BCE as suas competências em matéria monetária e o seu papel oficial de assegurar a estabilidade dos preços (lutar contra a inflação) em toda a zona. Os seus três órgãos de decisão (o conselho de governadores, o directório e o conselho geral) são todos eles compostos por governadores dos bancos centrais dos países membros ou por especialistas «reconhecidos». Segundo os estatutos, pretende ser «independente» politicamente, mas é directamente influenciado pelo mundo financeiro.
e há muito a contar sobre o FMI sob a sua direcção. Após a partida de Christine Lagarde, os Europeus e Washington voltaram a pôr-se de acordo para colocar uma pessoa europeia à cabeça da instituição: Kristalina Georgieva, economista búlgara, antiga número dois do Banco Mundial.

Em 2019 o FMI tinha uma equipa de 2765 altos funcionários provenientes de 148 países, com sede em Washington na sua maioria. O «número 2» do FMI é sempre um representante dos EUA, cuja influência no seio da instituição é preponderante. Aquando da crise asiática de 1997-1998, Stanley Fischer secundou Michel Camdessus em diversas ocasiões. Na crise argentina de 2001-2002, Anne Krueger desempenhou um papel muito activo Activo Em geral o termo «activo» refere um bem que possui um valor realizável, ou que pode gerar rendimentos. Caso contrário, trata-se de um «passivo», ou seja, da parte do balanço composta pelos recursos de que dispõe uma empresa (os capitais próprios realizados pelos accionistas, as provisões para risco e encargos, bem como as dívidas). . De 2006 a 2011, John Lipsky, ex-economista-chefe do JP Morgan, um dos principais bancos de negócios norte-americano, teve um papel de primeiro plano. Tinha prevenido desde março de 2010 que os governos dos «países desenvolvidos com défices públicos elevados devem começar desde já a preparar as suas opiniões públicas para as medidas de austeridade que serão necessárias a partir do próximo ano» [3]. Dez anos mais tarde, é forçoso constatar que a agenda neoliberal foi efectivamente instalada, nomeadamente sujeitando ao controlo do FMI a Grécia, a Irlanda e Portugal desde 2010. O FMI também prosseguiu a sua acção nefasta numa série de países do Sul. Em 2018 concedeu o seu maior montante de crédito ao regime neoliberal de Mauricio Macri, na Argentina, dócil aliado dos EUA. Isto levou a um enorme fiasco. Felizmente as receitas impostas pelo FMI a países como o Equador ou o Haiti provocaram enormes mobilizações populares em 2019 (no Equador as medidas tiveram de ser abandonadas por pressão nas ruas).

Um funcionamento baseado no modelo da empresa privada

Desde 1969, o FMI possui a sua própria unidade de conta que regula as suas actividades financeiras com os países membros: os Direitos Especiais de Saque (DES; em inglês Special Drawing Rights, SDR). Foi criada, a fim de assegurar o sistema de reservas mais eficaz, num momento em que o sistema instituído em Bretton Woods – baseado em taxas de câmbio fixas e assente no padrão ouro-dólar – estava a falhar. Nada disto impediu o sistema de Bretton Woods de se afundar, após a decisão de Nixon de suprimir a livre conversão do dólar norte-americano em ouro em 1971. Com o sistema de taxas de câmbios flutuantes, o SDR tornou-se sobretudo um bem de reserva entre muitos outros. Segundo o FMI: «O SDR não é uma moeda nem consiste num crédito sobre o FMI. Representa em contrapartida um crédito virtual sobre as moedas livremente utilizáveis dos países membros do FMI.» [4] Sendo de início equivalente a 1 $US, passou mais tarde a ser avaliado quotidianamente [5] a partir de um cabaz de moedas fortes (o dólar americano, o yen, o euro, a libra esterlina e, desde 2016, o renminbi).

O FMI funciona quase exclusivamente como uma empresa, não como uma instituição democrática. Todos os países que se tornam membros do FMI têm de depositar uma quota-parte de entrada, tornando-se assim accionistas no capital próprio Capital próprio Soma do capital social (angariado pelos accionistas ou sócios) e dos lucros não distribuídos (reservas). da instituição. Essa quota-parte é calculada em função da importância económica e estratégica do país. 25 % desse valor tem de ser depositado em DTS ou numa das divisas que o compõem (ou em ouro, antes de 1978) e o resto em moeda local do país. Foi assim que o FMI se tornou um importante detentor de ouro (o terceiro do mundo, em julho de 2019, logo a seguir aos EUA e à Alemanha), pois vários países pagaram a sua quota em metal precioso. Por outro lado, em 1970-1971, a África do Sul, país que o FMI achou perfeitamente aceitável apesar das contínuas violações de direitos humanos durante o regime do apartheid, vendeu-lhe enormes quantidades de ouro.

Quando, no início do século 21, todos os seus grandes clientes o reembolsaram de forma antecipada ou deixaram de apelar a ele, o FMI atravessou um momento financeiro delicado e, em abril de 2008, o seu Conselho de Administração aprovou a venda de 403 toneladas de ouro, pelo valor de 11 mil milhões $US, a fim de engordar a caixa. Embora estas reservas não tenham intervenção nos empréstimos do FMI, conferem-lhe uma estabilidade e uma estatura essenciais aos olhos dos actores financeiros internacionais.

Em abril de 2009, a cimeira do G20 decidiu triplicar a capacidade de empréstimo do FMI, que passou de 250 a 750 mil milhões $US. Após uma nítida queda da prestação de crédito do FMI aos países membros, a crise internacional que rebentou em 2007-2008 serviu de pretexto para voltar ao ataque, fazer novos empréstimos – nomeadamente aos países europeus – e impor em contrapartida medidas anti-sociais draconianas e uma austeridade dramática para os povos.

O quadro seguinte mostra bem a que ponto o FMI tinha perdido peso em 2006-2007. Vemos que é a partir de 2004 que os países membros começam a não recorrer ao crédito do FMI. É no seguimento dos efeitos internacionais da crise que rebentou nos EUA em 2007 que os créditos Créditos Montante de dinheiro que uma pessoa (o credor) tem direito de exigir a outra pessoa (o devedor). desembolsados pelo FMI começam de novo a aumentar a partir de 2008. Seguem-se desembolsos vultuosos em 2011, em plena crise europeia, quando o FMI emprestou massivamente à Grécia, a Portugal e à Irlanda.

Volume total dos créditos detidos pelo FMI sobre o conjunto dos países membros (em milhares de milhão de $US)Créditos desembolsados anualmente (em milhares de milhão de $US)Reembolsos recebidos pelo FMI anualmente (em milhares de milhão de $US)
1998 93,4 30,1 10,2
1999 78,8 14,7 27,4
2000 64,1 10,0 20,6
2001 74,9 30,8 17,6
2002 95,1 35,9 21,6
2003 106,4 31,3 29,2
2004 96,3 7,7 22,9
2005 49,3 3,8 42,8
2006 20,5 4,3 35,9
2007 15,5 2,0 8,1
2008 33,1 21,7 3,7
2009 66,0 34,4 1,9
2010 93,1 32,6 4,7
2011 141,7 52,9 3,7
2012 146,6 24,4 19,5
2013 138,7 22,1 30,9
2014 108,5 16,1 37,3
2015 79,1 12,7 37,6
2016 74,7 8,6 10,7
2017 65,5 8,1 21,8
2018 85,9 35,4 13,5
2019 99,0 23,9 9,7

Ao contrário do que sucede no Banco Mundial, são as quotizações dos Estados que permitem ao FMI constituir reservas destinadas a serem emprestadas aos países com défice temporário. Esses empréstimos são condicionados à assinatura de um acordo que dita as medidas que o país deve tomar. O dinheiro é disponibilizado por tranches, após verificação da aplicação efectiva das medidas exigidas.

Regra geral, um país em dificuldades pode pedir empréstimos ao FMI anualmente, até ao limite de 100 % da sua quota-parte e ao todo até 300 %, salvo em caso de urgência. O empréstimo é de curto prazo e o país deve reembolsar o FMI logo que a sua situação financeira esteja restabelecida.

Tal como no caso do Banco Mundial, a quota-parte de um país determina o número de direitos de voto no seio do FMI, que correspondem a 250 votos mais um voto por cada tranche de 100 000 DTS de quota-parte. É assim que o Conselho de Administração concede um lugar preponderante aos EUA (mais de 16,5 % dos direitos de voto). A título de comparação, em janeiro de 2020 o grupo encabeçado pela Mauritânia, constituído por 23 países africanos, representava 339 milhões de pessoas (ou seja 8 milhões mais que os Estados Unidos da América) e possuía apenas 1,62 % dos direitos de voto (ou seja menos de um décimo dos direitos de voto dos EUA). Em 2016, sob pressão dos países emergentes, entrou em vigor uma reforma sobre a transferência dos direitos de voto, mas na realidade tratou-se apenas de uma farsa.

Repartição dos direitos de voto entre os administradores do FMI, em abril de 2020 [6]
País % Grupo presidido por % Grupo presidido por %
EUA 16,52 Bélgica 5,43 Brasil 3,07
Japão 6,15 Colômbia 5,31 Índia 3,05
China 6,09 Tailândia 4,34 Eswatini (ex-Suazilândia) 2,97
Alemanha 5,32 Itália 4,13 Suíça 2,89
Reino Unido 4,03 Austrália 3,79 Irão 2,54
França 4,03 Canadá 3,38 Egipto 2,53
Rússia (+ Síria) 2,68 Suécia 3,29 Mauritânia 1,62
Arábia Saudita 2,01 Turquia 3,23 Argentina 1,59

Fonte: FMI

Com tal sistema, não é difícil ver que os países do Norte conseguem facilmente reunir a maioria dos direitos de voto e portanto comandar o FMI.

O poder que os países do Norte detêm é desmesurado, em comparação com o dos países do Sul, cujos direitos de voto são ridiculamente reduzidos, tendo em conta o volume das populações que representam.

País ou grupoPopulação estimada em 2020 (milhões)Direitos de voto em abril de 2020 (%)
Grupo presidido pela Índia 1 566 3,05
China 1 439 6,09
Grupo presidido pelo Eswatini (ex-Suazilândia) 766 2,97
Grupo presidido pela Mauritânia 339 1,62
EUA 331 16,52
Rússia (+Síria) 163 2,68
Japão 127 6,15
França 65 4,03
Arábia saudita 34 2,01

Fonte: FMI; Nações Unidas

Tal como no Banco Mundial, é necessária uma maioria de 85 % em todas as decisões importantes que tenham a ver com o futuro do FMI e os EUA são o único país a deter mais de 15 % dos direitos de voto, o que lhe confere de facto um direito de veto.

FMI, o bombeiro pirómano

As missões do FMI encontram-se definidas nos seus estatutos: «promover a cooperação monetária internacional, garantir a estabilidade financeira, facilitar as trocas internacionais, contribuir para um nível elevado de emprego e estabilidade económica e fazer recuar a pobreza» [7].

Na realidade, a política do FMI contradiz os seus estatutos. A instituição não favorece a criação de níveis elevados de emprego e de rendimentos reais. Por influência do Tesouro dos EUA e com o apoio de outros países do Norte, as iniciativas do FMI tornaram-no o principal agente que impera sobre as orientações políticas e económicas dos países membros. Para isso não hesita em ultrapassar os seus direitos.

Foi assim que o FMI favoreceu a liberalização completa dos movimentos de capitais – uma das principais causas das crises financeiras que fustigam os países do Sul. Esse alívio de todos os meios de controlo dos movimentos de capitais favorece a especulação Especulação Operação que consiste em tomar posição no mercado, frequentemente contracorrente, na esperança de obter um lucro. e contradiz a secção 3 do artigo 6.º dos estatutos do FMI: «Os Estados membros podem tomar as medidas necessárias para regulamentar os movimentos internacionais de capitais».

Supervisão, ajuda financeira e assistência técnica constituem os três domínios de intervenção do FMI. No entanto, as consultas anuais aos países membros e as recomendações dos seus peritos não lograram que o FMI previsse e evitasse as grandes crises após 1994. As políticas ditadas pelo FMI foram ao ponto de as agravar.

«Os governos do G7, em particular o dos EUA, utilizaram o FMI como instrumento para realizar os seus desígnios políticos. […] Numerosos estudos sobre os efeitos dos empréstimos do FMI não conseguiram estabelecer um elo significativo entre os empréstimos do FMI e o aumento da riqueza ou do rendimento. O reembolso dos credores, com o apoio do FMI aquando das crises recentes, foi especialmente prejudicial e teve efeitos terríveis sobre os países em desenvolvimento. Pessoas que tinham trabalhado duramente para saírem da pobreza assistiram à destruição dos seus feitos, à perda das suas poupanças e à falência das suas pequenas empresas. Os trabalhadores perderam o emprego, frequentemente sem receberem qualquer indemnização por despedimento que permitisse amortecer o choque. Os proprietários nacionais e estrangeiros de bens reais sofreram fortes perdas, enquanto os bancos credores estrangeiros foram protegidos.»

Comissão consultiva do Congresso dos EUA sobre as instituições financeiras internacionais (IFI Advisory Commission), dita Comissão Meltzer, 2000.

Nos últimos anos, as políticas do FMI têm consistido nomeadamente em acabar com os subsídios públicos aos produtos básicos (combustíveis, géneros alimentares) e a serviços de primeira necessidade (transportes públicos) ou em impor medidas antissociais no sistema de segurança social; provocaram levantamentos populares, por exemplo na Nicarágua (abril de 2018), no Sudão (verão de 2018 e em 2019), no Equador (outubro de 2019). Decididamente as políticas do FMI não mudaram.

Participaram na redacção/realização desta secção: Maud Bailly, Milan Rivié et Éric Toussaint


Tradução: Rui Viana Pereira

Notas

[1O Banco Lazard especializou-se no aconselhamento financeiro e na gestão de activos. Intervém nomeadamente junto dos Estados com dificuldades financeiras. A título de exemplo, interveio na Grécia em 2015, com o conhecido «sucesso»; aconselhou também o regime predador do Congo-Brazzaville.

[2O escândalo DSK ou escândalo do Sofitel de Nova Iorque. Ver Éric Toussaint & Damien Millet, « FMI : la fin de l’histoire ? », CADTM, 20 maio 2011.

[3Notícia Reuters, «Le FMI plaide pour des mesures d’austérité dès l’an prochain», 21-03-2010.

[5Em 20-12-2019, 1 $US era igual a 0,72 SDR http://www.imf.org/external/np/fin/data/param_rms_mth.aspx

[6Ver «IMF Executive Directors and Voting Power»: http://www.imf.org/external/np/sec/memdir/eds.aspx

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