Na República, Platão [1] relata um diálogo entre Sócrates [2] e um ateniense rico. Sócrates desconstrói o argumento do homem rico que afirma que devemos sempre pagar as nossas dívidas. Sócrates dá o exemplo seguinte: um homem empresta-te a espada dele, depois enlouquece violentamente e volta para reaver a sua espada; devemos recusar entregá-la e, portanto, recusar pagar o empréstimo.
Cerca de 2400 anos mais tarde, a Troika (que evita agora usar esse termo, porque é sinónimo de ilegitimidade) emprestou uma espada no valor de cerca de 240 mil milhões de euros, acompanhada por um programa de «resgate» ou «memorandos». Os membros da Troika ficaram furiosamente loucos pela austeridade, pelas privatizações e também pelas violações dos direitos económicos e sociais. Seguindo a conclusão de Sócrates, é desejável que o governo grego e o povo grego recusem pagar o empréstimo relacionado com essa espada usada para cortar em pedaços os direitos democráticos e sociais, assim como a dignidade e a soberania populares.
[1] Platão nasceu em Atenas a 428/427 a.c. e morreu a 348/347 a.c..
[2] Sócrates é um filósofo grego do século V a.c. (nasceu por volta de 470/469 a.c.; foi condenado à morte e executado em 399 a.c.).
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.