Dentro de umas semanas, o lema “Outro mundo é possível” soprará suas dez velinhas. No entanto, não é tempo para festejos: este movimento se vê na obrigação de colocar as perguntas apropriadas para obter as respostas adequadas à crise capitalista atual, que nos distancia, ainda, um pouco mais, dessa sociedade tão desejada, na qual se garantiria a justiça social e o respeito à natureza.
Não basta desmascarar o mito para desarticulá-lo
Mesmo que não haja motivo algum para festejar, a atual crise capitalista , e sobretudo sua condução, fizeram cair as máscaras. Os governos mostraram seu verdadeiro rosto: os cofres estão vazios quando os movimentos sociais pedem que se respeitem seus direitos, e, no entanto, quando os donos do capital estão em dificuldades, claro que os recursos são encontrados em poucas semanas - e a eles são outorgados - várias centenas de milhões de dólares. Um número crescente de cidadãos está se conscientizando de que algo não está funcionando bem e de que se deveria proceder de “outra maneira”. Por exemplo, segundo uma pesquisa do Instituto Globscan realizada em 20 países, a porcentagem de pessoas que acham o sistema capitalista ainda o melhor sistema possível passou de 63% para 36% em 2009 [1] Por outro lado, o movimento altermundista que se desenvolveu entre os anos 1990 e 2000 deu origem a muitas expectativas . Entre outras coisas fez que se colocasse em julgamento o neoliberalismo a nível mundial e se reivindicasse a necessidade e a possibilidade de uma alternativa global (“Outro mundo é possível”). Além do mais, as diferentes lutas sociais que aconteceram em diferentes regiões, especialmente, porém não somente, na América Latina, nos mostram que “triunfar” é possível e que a palavra “alternativa” não é uma palavra vã.
No entanto, há que ser realista. Esta tendência favorável não é suficiente. Depois de uma breve “pausa” , no que diz respeito às palavras mais que os atos, a ofensiva neoliberal ressurgiu com maior intensidade. Em Copenhague, em meados de dezembro de 2009, apesar de uma importante mobilização em torno da questão climática, os governantes nos recordaram, uma vez mais, que não é a rua que governa. Depois de haver organizado <
Que lugar ocupa o movimento altermundista e a evolução do Fórum Social Mundial (FSM) nesta dialética? Poderá o FSM continuar desempenhando um papel positivo, e inclusive determinante, na construção de um mundo de justiça social e respeito à natureza? Visando alimentar o debate, trago aqui algumas indagações e reflexões.
Como ampliar o desenvolvimento do FSM?
Em grande parte devido ao FSM numerosas organizações puderam reunir-se , aprender a conhecer-se e trabalhar em equipe. A criação e a consolidação de diferentes redes internacionais, como também a coordenação entre elas, progrediu notavelmente durante estes últimos anos e isto é sem dúvida , um dos aspectos mais positivos. No entanto, ainda se está longe de alcançar a organização e a solidariedade equivalentes às existentes entre os poderosos deste mundo. Muitas das importantíssimas lutas que se levam a cabo no planeta não se identificam com o FSM e/ou não fazem parte dele. Por exemplo, no México, os zapatistas , que alguns consideram como os precursores do movimento altermundista, não fazem parte desse movimento. Em conseqüência, nos resta, ainda, um longo caminho a percorrer a fim de , não só integrar um número maior de movimentos no processo do FSM senão, ademais e sobretudo, procurar que esta integração ou implicação produza um impacto real na dinâmica dos movimentos sociais e suas lutas.
Em 2010, com uns trinta eventos internacionais vinculados ao FSM, uma das prioridades deveria ser a de procurar que uma maioria de movimentos sociais se converta em atores do processo do FSM, integrando-o e fazendo-o seu. A partir deste enfoque, o Conselho Internacional do Fórum propôs um tema comum a todas as atividades que se realizarão em 2010: <
Como fazer para que o processo do Fórum seja mais atrativo?
Ao contrário do que divulga o discurso dominante, o FSM continua sendo um processo interessante e possui aspectos positivos indiscutíveis. No entanto, sob pena de perder a legitimidade e estancar em uma repetição de encontros, agradáveis ainda que estéreis , o FSM terá que resolver uma série de importantes deficiências e contradições. Em primeiro lugar, continua sendo fundamental popularizar as alternativas e fazer com que sejam conhecidas. O lema <
Como fazer para que o processo de evolução do FSM siga radicalizando-se?
A partir da crise que explodiu em 2008 e especialmente depois do último Fórum Social de Belém, em janeiro de 2009, ficou muito claro que o processo está se radicalizando. Atualmente, algumas opiniões, minoritárias e inclusive refutadas já há alguns meses, têm cada vez mais aceitação, como por exemplo, o fato de que o FSM deva ser , antes de tudo, um espaço útil para os movimentos sociais e facilitar a ação. Isto tem implicações concretas, sobretudo no marco do Conselho Internacional, o qual decidiu empreender uma profunda reflexão a propósito da índole e dos objetivos do FSM [3]. Por outro lado, pela primeira vez desde o começo do FSM, vários movimentos sociais opinaram de maneira categórica sobre o tema do capitalismo. Diversas declarações constituem uma prova disto, por exemplo, da Assembléia dos movimentos sociais (AMS) no FSM de Belém : <
Ninguém pode adivinhar o futuro, assim como tampouco ninguém pode predizer o destino da humanidade. No entanto, há duas coisas sobre as quais podemos estar seguros. Por um lado, a ampliação, a coerência e o nível de radicalização na evolução do FSM determinaram em grande parte a função que este haverá de desempenhar. Por outro lado, FSM ou não, os movimentos sociais, os oprimidos, os explorados, os excluídos, seguiram lutando por seus direitos e sua dignidade. O que verdadeiramente importa é fazer que essas lutas triunfem. E no melhor dos casos o FSM poderá constituir-se em uma ferramenta a serviço das mesmas.
Traduzido por Ana Mary da Costa Lino Carneiro
[1] Michael R. Krätke, « La iglesia capitalista pierde fieles », http://www.sinpermiso.info/textos/index.php?id=2965
[2] Para mais informações sobre o balanço do FSM de Nairobi : http://www.cadtm.org/Contribucion-colectiva-a-los
[3] Uma primeira etapa importante será Porto Alegre em janeiro de 2010, onde um debate estratégico de três dias será organizado sobre o balanço e as perspetivas do processo como um todo. Para mais notícias sobre esta atividade: http://www.forumsocialmundial.org.br/noticias_01.php?cd_news=2652&cd_language=3
[4] Para Ler a declaração AMS: : http://www.cadtm.org/No-vamos-a-pagar-por-la-crisis-que e para uma análise das outras declarações e do FSM de Belém, ler o artigo “o salto do FSM”, entrevista Éric Toussaint por Pauline Imbach, http://www.cadtm.org/O-segundo-sopro-do-Forum-Social
Ele é membro dos [Comissão para a Verdade sobre a dívida pública> 11511].