12 de Abril de 2022 por Réseau Justice pour Sankara
Tomas Sankara foi um líder anti-imperialista, revolucionário, socialista, panafricanista, uma figura icónica que se equivale a outras como Patrice Lumumba ou Amílcar Cabral. Ele foi presidente do Burquina Fasso de 1983 a 1987.
Apesar dos avanços realizados, Sankara encontrou uma forte oposição interna e externa. A política externa independente e as políticas sociais progressistas do governo desagradavam aos sectores mais conservadores do país e também de países vizinhos, especialmente Costa do Marfim e Togo, além da França e dos Estados Unidos. Em 15 de outubro de 1987, Thomas Sankara foi assassinado, no quadro de um golpe de Estado liderado pelo ex-aliado Blaise Compaoré, com envolvimento dos serviços segredos franceses e da CIA.
O processo pelo assassínio de Thomas Sankara foi concluído em Uagadugu nesta sexta-feira 6 de abril. O ex-presidente do Burquina Fasso, Blaise Compaoré, foi condenado, à revelia, à prisão perpétua, por sua participação no assassínio do seu antecessor, o ex-chefe de Estado Thomas Sankara. O comandante da sua guarda pessoal, Hyacinthe Kafando, e o general Gilbert Diendéré, um dos líderes das Forças Armadas na época do golpe de 1987, receberam a mesma pena.
Apresentamos a seguir o comunicado da Rede Internacional Justiça para Sankara – Justiça para a África.
Um processo histórico acaba de se concluir. É com grande satisfação que tomamos conhecimento da condenação a prisão perpétua de Blaise Compaoré, Gilbert Diendéré e Hyancinthe Kafando. De facto, nada estava garantido. Mas se o essencial sobre a dimensão nacional da conspiração foi desvendado pelos seis meses de debates, a luta para trazer à tona a verdade sobre a conspiração internacional continua.
Manobras de todo tipo têm tentado obstruir a justiça; as mais importantes são:
Como já dissemos, a própria realização deste julgamento já é uma vitória. A conclusão deste julgamento, vale lembrar, é o resultado de anos de empenhamento cívico, culminando na magnífica revolta de outubro de 2014, e da mobilização internacional. É também uma demonstração da utilidade da acção local e global, da solidariedade e do empenhamento pela paz e pela justiça.
Agradecemos também a todos quantos, e foram muitos em todo o mundo, participaram das campanhas para exigir justiça, incluindo a da nossa rede internacional Justiça para Sankara-Justiça para África, que nunca baixou os braços, alertando e informando desde 2008.
Quase seis meses de julgamento em um país em plena guerra é um verdadeiro desafio. Gostaríamos de prestar homenagem ao trabalho dos advogados da parte civil e de alguns dos advogados de defesa que levaram a sério seu papel, ao empenho do juiz de instrução François Yaméogo que conduziu sua investigação com rigor e coerência, e à autoridade e imparcialidade demonstradas pelo presidente do júri, Urbain Méda, durante o julgamento.
Gostaríamos também de saudar Mariam Sankara por sua coragem, sua dignidade e sua tenacidade durante a longa luta que travou, assim como os irmãos e irmãs do Burkina que frustraram as tentativas de manipulação por parte do regime de Blaise Compaoré.
Nossos pensamentos também estão com as famílias das vítimas, as de Thomas Sankara, Bonaventure Compaoré, Christophe Saba, Frédéric Kiemdé, Patrice Zagré, Paulin Babou Bamouni, Abdoulaye Gouem, Emmanuel Bationo, Hamado Sawadogo, Noufou Sawadogo, Wallilaye Ouédraogo, Paténéma Soré e Der Somda, na esperança de que as sentenças proferidas aliviem parte da dor e permitam que cada família possa viver o luto.
Só podemos lamentar a ausência de Blaise Compaoré e Hyacinthe Kafando, o chefe do comando. Exigimos que a Costa do Marfim proceda a sua extradição. Eles optaram por fugir em vez de vir para se explicar e se defender.
Infelizmente, a retractação de algumas das testemunhas do que tinham dito durante audiências anteriores mostrou que o medo não desapareceu. Mas, em sua maioria, a investigação e depois o julgamento desvendaram os fios da conspiração, pelo menos na sua componente nacional. Ficou provado que em 15 de outubro o comando partiu da casa de Blaise Compaoré. Thomas Sankara e seus colaboradores foram mortos sumariamente, assim como os guardas e polícias presentes no local naquele dia. O tenente Koama, que era próximo a Thomas Sankara e provavelmente interviria para defendê-lo, já havia sido assassinado algum tempo antes. Gilbert Diendéré, que estava presente no local, deu as ordens para enviar grupos de soldados para proteger a cidade e assumir o controle das guarnições que poderiam ter reagido.
No entanto, a luta ainda não terminou. O Estado francês ainda não forneceu realmente os documentos classificados «segredo defesa» em sua posse. Continuaremos a pressionar para o cumprimento da promessa feita pelo presidente Macron em Uagadugu em novembro de 2017.
Exortamos todas as forças democráticas amantes da justiça na França, Estados Unidos, Costa do Marfim, Togo, Líbia, Libéria e Serra Leoa a intervirem junto de seus governos para garantir que cooperem sinceramente com o sistema de justiça burkinabense. O caso «Sankara e companheiros» ainda não terminou. A investigação internacional deve continuar. Nossa rede permanecerá mobilizada.
Lavrado em Uagadugu, Banfora, Bobo Dioulasso, Otava, Nîmes, Niamey, Montpellier, Berlim, Dakar, Sabadel, Barcelona, Paris, Liège, Bruxelles, Marselha, Ajaccio, Toulouse, Las Palmas, Turim, Roma, Toronto, Albany, Nova Iorque, entre 6 e 8 de abril de 2022.
Rede Internacional Justiça para Sankara Justiça para África
Contacto: contactjusticepoursankara chez gmail.com
Ver também em https://www.thomassankara.net/tribune-insupportable-lusage-extensif-devoye-secret-defense-bloque-enquetes-judiciaires/ um comunicado sobre a questão dos «segredos de defesa».
Tradução: Alain Geffrouais.
Edição e revisão: Rui Viana Pereira
25 de Março de 2021, por Réseau Justice pour Sankara