FSM Tunes
31 de Março de 2013 por Eric Toussaint , Sergio Ferrari
Balanço da nova edição de Tunes 2013
O Fórum Social Mundial (FSM) encerrou a sua nona edição, este sábado, 30 de março, na capital tunisina, com um balanço quantificável muito significativo. Mais de 50 mil participantes; quase mil atividades de todo o tipo; uma manifestação de abertura, na terça-feira, 26 de março, que reuniu 25 mil pessoas e uma concorrida marcha de encerramento em solidariedade com o povo palestiniano. «Um fórum muito positivo», segundo a análise do historiador e ativista social belga Éric Toussaint, presidente do Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM), uma das organizações que integram o Conselho Internacional do FSM desde o início.
Pergunta: Quais são os aspectos mais importantes desta nova edição do FSM?
Éric Toussaint: Houve uma forte participação tunisina em muitas atividades. Vimos isso, por exemplo, nos ateliês e atividades que analisaram o tema da dívida. Também na Assembleia dos Movimentos Sociais, no passado dia 29. Foi evidente o grande interesse da juventude e dos movimentos sociais pela iniciativa, o que constitui um aspecto muito positivo do balanço a fazer.
P: Significa que o FSM enquanto espaço sai fortalecido desta convocatória no Magreb?
R: Sem dúvida! O FSM vive uma certa crise há alguns anos. Em particular, o Conselho Internacional, enquanto instância facilitadora, enfrenta dificuldades enormes para encontrar uma nova dinâmica… E, ao mesmo tempo, o FSM continua a ser, de forma incontestável, o único lugar e marco mundial onde os movimentos sociais se encontram. Nesse sentido, na ausência de outra alternativa, o FSM demonstra ser muito importante. Estando as sociedades tunisina e de toda a região efetivamente mobilizadas, contribuem com um lufada de ar fresco e de renovação para este espaço internacional. O FSM, ao entrar em contacto com uma sociedade em movimento, em ebulição, produz uma reação química, uma interação muito interessante; e comprovámos isto nesta edição.
P: Segundo o seu balanço, o facto de se convocar o FSM num país e numa região em ebulição poderá servir também, face ao futuro, de antídoto perante o risco de institucionalização deste espaço mundial...
R: De facto. Poderíamos imaginar uma próxima edição do FSM no Egito, caso um grupo de organizações desse país deseje recebê-lo, já que o Egito vive uma situação totalmente elétrica, com um movimento sindical proporcionalmente mais forte, no setor industrial, do que em Tunes e com um mundo rural muito marcado pelas políticas neoliberais do Banco Mundial e pela privatização das terras. Porém, podem surgir explosões sociais noutras partes do mundo e seriam imagináveis cenários diversos.
P: Como desbloquear dificuldades e alguma paralisia que o Conselho Internacional do FSM enfrenta?
R: Não tenho soluções. Constato que uma série de forças que integram o Conselho desejam continuar a “jogar esse jogo”. O que Tunes nos ensina é que em determinado momento há que libertar o terreno e abrir espaço às novas forças. Nós, enquanto CADTM, continuamos a ser membros do Conselho Internacional e sabemos que existem atores muito interessantes e dinâmicos com quem colaboramos estreitamente. Porém, vemos também que há uma série de forças muito institucionalizadas que gerem a «marca» do FSM segundo os seus interesses.
P: Apesar de tudo, a sua ideia é que o FSM tem de ser fortalecido…
R: Sem dúvida. O FSM é um espaço útil. Vê-se que, como aconteceu aqui, há uma dinâmica muito positiva que se desenvolve independentemente dos problemas funcionais.
P: Tendo em conta o seu balanço otimista, quais os elementos negativos a retirar desta edição?
R: Entre as organizações que instalaram os seus stands no Fórum estava a Usaid que é o organismo de cooperação dos Estados Unidos, presente em todas as operações de desestabilização no planeta. É um instrumento que visa o prolongamento da política internacional norte-americana. Portanto, essa organização não tem nada a fazer no Fórum. É um elemento preocupante, que implica, inclusive, a violação da Carta de Princípios de 2001. Por isso, compreendo os participantes que exigiram que essa organização saísse do perímetro do campus universitário El Manar, onde o Fórum decorreu.
Vimos também – tal como aconteceu na edição anterior de 2011, em Dakar – que a monarquia marroquina enviou uma centena de pessoas, dizendo pertencerem a organizações não governamentais de cariz social. Uma parte dessas pessoas são polícias que vieram impedir que se reivindicasse no espaço o direito a um Estado Independente Sarahui... Vimos isso em Dakar; vimos também no passado dia 29 na Assembleia dos Movimentos Sociais... Elementos provocadores, ligados ao regime marroquino, tomaram de assalto a tribuna e tentaram impedir que na declaração dos Movimentos Sociais se fizesse referência a essa solidariedade necessária. Esse também foi um aspecto negativo, apesar de não ter sido responsabilidade do FSM. Devem-se encontrar meios para proteger, em especial, os ativistas sociais marroquinos, que têm a coragem de defender o direito democrático à soberania nacional.
Revisão: Maria da Liberdade
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.
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es periodista argentino radicado en Suiza. Acreditado ante la ONU en Ginebra. Miembro de la redacción del diario independiente «Le Courrier», editado en Ginebra. También es colaborador de UNITÉ... plataforma ONG de voluntariado solidario Norte-Sur y de diversos medios suizos y latinoamericanos
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