8 de Novembro de 2016 por Anouk Renaud
O Comité para a Verdade sobre a Dívida Pública Grega, criado em Abril de 2015 por iniciativa da presidente do parlamento grego, voltou a reunir-se em Atenas, nos dias 5, 6 e 7 de Novembro, para prosseguir os seus trabalhos. A sessão de abertura, no dia 5, sábado à noite, reuniu mais de 250 pessoas numa sala apinhada de gente! A mensagem dos membros do Comité que tomaram a palavra [1] foi unânime e não podia ser mais clara: o trabalho de auditoria da dívida grega continuará, custe o que custar.
A auditoria da dívida está mais viva que nunca
Zoé Konstantopolou começou por recordar a génese do comité. Apesar da falta de apoio das autoridades governamentais e dos ataques mediáticos por vezes violentos contra alguns dos seus membros, o Comité para a Verdade sobre a Dívida Grega conseguiu publicar em Junho de 2015 um primeiro relatório, no qual demonstra que a dívida grega à Troika Troika A Troika é uma expressão de apodo popular que designa a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. é ilegal, ilegítima, odiosa e insustentável. [2] Em fins de Setembro de 2015, o Comité publicou uma segunda análise, mostrando que as novas dívidas, no montante de 86 mil milhões de euros, que acompanham o 3º Memorando são também elas ilegais, odiosas, ilegítimas e insustentáveis. [3] Nessa data o Comité anunciou que prosseguiria os seus trabalhos, apesar da capitulação do governo «Syriza I» e das pressões sofridas. De facto, ao entrar em funções, o novo presidente da Vouli (o Parlamento helénico) anunciou o fim «oficial» da comissão e apagou todos os vestígios da sua existência no sítio Internet do Parlamento. O governo invadiu os escritórios da comissão, mudou as fechaduras e confiscou os arquivos … ficou claro que as verdades que a auditoria da dívida grega desvendou não convêm a toda a gente … Embora o Governo grego afirme que leva a peito a questão da dívida pública Dívida pública Conjunto dos empréstimos contraídos pelo Estado, autarquias e empresas públicas e organizações de segurança social. , esta continua a ser paga. Actualmente o Governo já nem sequer fala de redução do montante da dívida. Ao submeter-se totalmente aos credores, espera poder alcançar um reescalonamento da dívida … em 2018!
Apesar desta tentativa de enterrar o Comité, os seus membros decidiram em Março de 2016, numa reunião realizada em Bruxelas, dar continuidade aos seus trabalhos, agora sob a forma de associação. Ao tentarem eliminá-lo, as autoridades apenas conseguiram espicaçar a determinação do Comité: «Não deixaremos de investigar todos os dados, de interrogar todas as pessoas, de abrir todos os envelopes», concluiu Zoé Konstantopolou.
«Dêem-nos energia!»
Esta vitalidade reafirmada do Comité não vem apenas dos seus membros, daqueles que analisaram a dívida pública grega, dos que publicaram os seus resultados; vem também da sociedade, das pessoas, dos cidadãos. A peça de teatro representada por um grupo de actores gregos como introdução à sessão trouxe um poderoso toque poético, musical e dinâmico à auditoria da dívida, que tem como um dos seus objectivos dar a conhecer as suas conclusões no seio da sociedade grega. A tarefa de divulgação dos resultados da auditoria foi de resto sublinhada por vários membros do Comité nesta primeira sessão. A eurodeputada Sofia Sakorafa, que faz parte do Comité, recorda que a difusão das conclusões da auditoria não é apenas uma operação de comunicação, mas também uma iniciativa política para combater a estratégia do TINA (there is no alternative), reforçada pelo golpe de rins do governo «Tsipras I».
O Comité para a Verdade sobre a Dívida Grega produziu preciosos instrumentos de resistência. Eles estão à disposição de todos nós para serem usados e difundidos, a fim de forçar os dirigentes a ter a coragem de adoptar soluções de força, de desobedecer e recusar o pagamento da dívida. Como sublinhou Éric Toussaint, coordenador científico dos trabalhos, «se o Governo não optar por uma viragem radical, o povo deve substituir esses dirigentes». Uma coisa é certa: o Comité continuará a batalha, mas não poderá ganhá-la sozinho.
Os trabalhos do Comité prosseguiram no dia seguinte. No seu programa: o sistema bancário grego, a questão do sistema de segurança social e em particular das pensões de reforma, a falsificação das estatísticas da dívida pública pelo Elstat, mas também as dívidas privadas num contexto onde as hipotecas das habitações se generalizam.
Tradução: Rui Viana Pereira
[1] Durante a sessão usaram da palavra: Zoé Konstantopolou, Sofia Sakorafa, Eric Toussaint, Yiorgos Kasimatis e Léonidas Vatikiotis.