O CADTM denuncia a nomeação de Ajay Banga como futuro presidente do Banco Mundial e apela à substituição dessa instituição

2 de Março por CADTM International


Ajay Banga, na Cimeira Económica Indiana, em 2017, em Nova Deli, Fórum Económico Mundial / Benedikt von Loebell, CC, Flickr, https://www.flickr.com/photos/worldeconomicforum/37480394852

Alguns dias após a demissão de David Malpass, que permanece como presidente do Banco Mundial até 30/06/2023, Joe Biden anunciou a nomeação do seu sucessor, Ajay Banga. Tal como os seus antecessores, o futuro dirigente do Banco Mundial é um norte-americano proveniente da alta finança. A rede do CADTM denuncia esta nomeação e apela à intensificação dos movimentos sociais para abolir o Banco Mundial e o FMI.



A 23 de fevereiro de 2023 a Casa Branca publicou um comunicado: «O presidente Biden anunciou hoje que os EUA nomearam, para a presidência do Banco Mundial, Ajay Banga, homem de negócios com grande experiência na direcção de empresas e sucesso nos países do Sul e na negociação de parcerias público-privadas que permitiram propor soluções no âmbito da inclusão financeira e das alterações climáticas» [1].

Mais uma vez, o presidente do Banco Mundial é um norte-americano, do sexo masculino, e vem da alta finança, o que parece ser uma garantia de sucesso para Joe Biden: «Ajay está perfeitamente capacitado para dirigir o Banco Mundial neste momento histórico decisivo. Durante mais de três décadas construiu e geriu grandes empresas que criaram postos de trabalho, investiu em economias em desenvolvimento, conduziu essas organizações em períodos de mudança muito importantes.»

Ler: A renúncia de David Malpass, presidente do Banco Mundial, deve fortalecer as ações e mobilizações para substituir o BM e o FMI no contexto de uma emergência ecológica e climática

A rede CADTM Internacional denuncia esta nomeação pelas seguintes razões:

  • Ajay Banga é mais uma vez um homem. Desde a criação do Banco Mundial, em 1945, que os seus 14 presidentes foram sempre homens.
  • Nascido na Índia, Ajay Banga adquiriu a nacionalidade estado-unidense, o que lhe permitiu ser escolhido para o lugar de presidente. Conforme a tradição, o presidente do Banco Mundial é norte-americano e o/a presidente do FMI é europeu/europeia. Nada mudou: um norte-americano para defender os interesses dos EUA, dos seus aliados, das grandes empresas privadas e do 1 % mais rico do mundo.
  • Ajay Banga é mais um homem ligado ao grande capital financeiro e económico. Este passado, que para Joe Biden e para a Casa Branca é garantia de sucesso, para nós é o contrário – Ajay Banga foi director-geral do Citigroup, um dos maiores bancos de investimento norte-americanos, para as actividades na Ásia-Pacífico, entre 2005-2009, antes de se tornar presidente-director-geral do Mastercard… O seu passado na direcção de grandes grupos financeiros capitalistas como o Citigroup e o Mastercard significa claramente que durante o seu mandato Ajay Banga continuará a promover um sistema capitalista extractivista, por via dos empréstimos e das condições neoliberais impostas pelo Banco Mundial.
  • Ajay Banga não tem qualquer experiências nas políticas de «desenvolvimento», nem nas que dizem respeito às questões climáticas e ecológicas.
  • Ajay Banga é membro da Comissão Trilateral. Esta comissão, fundada em 1973 por David Rockefeller, é um clube privado de concertação e orientação da política internacional dos EUA, dos países europeus e do Japão. Teve um importante papel na ofensiva neoliberal dos anos 1980. [2]
  • A nomeação de Ajay Banga como futuro presidente do Banco Mundial é vista com bons olhos pela direita ultranacionalista indiana.

A rede CADTM Internacional não alimenta ilusões: cada decisão do BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento) tem de assentar em 85 % dos votos para ser aprovada. Ora, os EUA têm 15,47 % dos direitos de voto em todas as decisões importantes, por isso têm de facto o direito de veto. Portanto não haverá nenhuma alteração positiva no Banco Mundial. Enquanto ele existir, continuará a ser uma instituição ao serviço dos interesses dos EUA, sejam eles presididos ou não por um/uma norte-americano/a proveniente do grande capital económico e financeiro. Continuará a conceder empréstimos geralmente onerosos, em troca de condições que reforçam o capitalismo e o desregulamentam, que aumentam as desigualdades sociais, de género e agravam a crise climática e ecológica.

Ler: «ABC do Banco Mundial»

A rede CADTM Internacional apela mais uma vez:

  • Ao reforço das acções e mobilizações contra as instituições de Bretton Woods, por uma frente unida dos países do Sul contra o reembolso das dívidas ilegítimas, pela abolição destas instituições e do sistema capitalista, patriarcal e extractivista.
  • A uma contra-cimeira dos movimentos sociais nas assembleias anuais do FMI-BM, que terão lugar em Marraquexe, de 9 a 15 de outubro de 2023.
  • À anulação das dívidas reclamadas pelo FMI e pelo Banco Mundial.
  • Ao julgamento em tribunal dos dirigentes do Banco Mundial.
  • À construção de uma nova arquitectura internacional.
  • À substituição do Banco Mundial por uma banca regionalizada que distribua empréstimos a taxas baixas ou nulas, para financiar projectos que respeitem as normas sociais, ambientais e os direitos humanos fundamentais. O novo banco mundial deve ser um instrumento para sair do sistema capitalista nefasto para os países ditos do «Sul», para lutar contra o sistema patriarcal, para melhorar drasticamente as condições de vida da maioria das pessoas, para deixar para trás o extractivismo e fazer uma viragem ecológica mais que urgente.

Notas

[1The White House, «President Biden Announces U.S. Nomination of Ajay Banga to Lead World Bank», 23/02/2023, https://www.whitehouse.gov/briefing-room/statements-releases/2023/02/23/president-biden-announces-u-s-nomination-of-ajay-banga-to-lead-world-bank/

[2Olivier Boiral, «Pouvoirs opaques de la Trilatérale», Le Monde Diplomatique, Novembro/2003, https://www.monde-diplomatique.fr/2003/11/BOIRAL/10677

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