Entrevista com Eric Toussaint, Presidente do Comitê para a Abolição da Divida do Terceiro Mundo (CADTM), desde Havana
3 de Março de 2009 por Eric Toussaint
Qual é tua opinião sobre a escolha da equipe de governo de Obama?
Toussaint: Obama escolheu os responsáveis pelo fracasso econômico. Alguns esperavam que ele designasse uma equipe econômica nova para levar a cabo um New Deal. Que Obama iria mudar completamente o capitalismo. Mas de fato escolheu os mais conservadores entre os democratas, os mesmos que tinham organizado a política de desregulação com Bill Clinton, no fim dos anos 90. A consistência das suas escolhas é reveladora, como se verá por três exemplos:
Robert Rubin foi Secretario do Tesouro de 1995 a 1999. Assim que assumiu teve que enfrentar a crise mexicana, a primeira do modelo neoliberal. Com o FMI, ele colocou em prática uma terapia de choque que só piorou a situação dos países que entraram em crise, como os do sudeste asiático em 1997-98, na Rússia e na América Latina em 1999. Ele nunca vacilou para afirmar os benefícios da liberalização e contribuiu para impor as políticas que fizeram deteriorar enormemente as condições de vida e as desigualdades nos países globalizados.
Nos EUA ele contribuiu para suprimir o Banking Act, votado em 1933, para garantir que os depósitos e investimentos dos bancos não estivessem nas mesmas mãos. Essa supressão abriu as portas para todo tipo de excesso no setor financeiro na obtenção de mais lucros e favoreceu o surgimento da crise internacional. Rubin favoreceu a concentração de poder do Citygroup, do qual ele se tornou depois um dos principais executivos, a quem o governo dos EUA recentemente entregou 300 bilhões de dólares. Apesar disso tudo, Rubin é um dos mais importantes conselheiros de Obama.
Lawrence Summers foi designado para a posição de Diretor do Conselho Econômico Nacional, um lugar dentro da Casa Branca. Em dezembro de 1991, quando era diretor geral do Banco Mundial, chegou a escrever: “Os países sub-povoados estão amplamente sub-poluidos. Sua qualidade do ar é desnecessariamente boa comparada com Los Angeles ou o México. (...) É preciso fazer migrar poluentes industriais para os países menos desenvolvidos (...) é muita preocupação sobre o fator de aumento do risco do câncer de próstata, do que em um país que 200 crianças por mil morrem antes de cinco anos.” Ele acrescentou, em 1991: “Não há limites no planeta para a capacidade de absorção no futuro previsível. O perigo de algum tipo de apocalipse devido ao aquecimento global ou algo assim não existe. A idéia de que o mundo está caminhando para o abismo é profundamente errada. A idéia de que poderíamos colocar limites no crescimento pelas limitações naturais é um grave erro; realmente, os custos sociais desse tipo de erro é enorme.” Na sua biografia na Universidade de Harvard se diz que ele “levou à prática o mais radical processo de desregulação em 60 anos”.
Timothy Geithner foi designado Secretário do Tesouro. Normalmente presidente e diretor executivo do Federal Reserve de Nova York, foi Sub-Secretario do Tesouro para Assuntos Internacionais de 1998 a 2001, com Rubin e Summers sucessivamente, sendo muito ativo nas questões referentes ao Brasil, ao Mexico, à Indonésia, à Coréia do Sul e à Tailandia, que são casos típicos de riscos do ultraliberalismo, que sofreram crises naqueles anos. As medidas implementadas por esse trio levou a que as populações desses países pagassem o preço das crise.
Como a América Latina está reagindo à crise?
Toussaint: Os países latinoamericanos acumularam 400 bilhões de dólares em reservas. O que não é pouco. Nas mãos dos Bancos Centrais, que necessitam ser utilizadas no momento oportuno para fortalecer a integração regional e resistir melhor aos efeitos da crise. Infelizmente, não criemos ilusões. A América Latina está perdendo um tempo precioso, com os governos, mais alem da retórica, desenvolvendo políticas tradicionais: assinando tratados bilaterais de investimento, aceitando ou dando continuidade a negociações sobre tratados de livre comércio, usando reservas para comprar bônus do Tesouro dos EUA (isto é, canalizando recursos para os países dominantes), adiantando pagamentos ao FMI, ao Banco Mundial e ao Clube de Paris, aceitando o Tribunal do Banco Mundial como lugar para dirimir diferenças com as transnacionais, continuando as negociações sobre livre comércio na agenda de Doha, manutenção da ocupação militar do Haiti.
E por que não avançam as negociações para a organização do Banco do Sul?
Toussaint: Em relação ao Banco do Sul, as discussões não progrediram. Temos que superar várias confusões e dar-lhe um caráter claramente progressista, cuja criação foi decidida em dezembro de 2007 por 7 países do continente. O Banco do Sul tem que ser uma instituição democrática (um país, um voto) e transparente (auditoria externa). Antes de usar dinheiro público para financiar grandes projetos de infra-estrutura que não respeitam o meio ambiente e que são desenvolvidos por empresas privadas cujo objetivo é obter os maiores lucros possíveis, temos que apoiar esforços dos poderes públicos para promover políticas como as de soberania alimentar, reforma agrária, o desenvolvimento de estudos no campo da saúde e do estabelecimento de uma industria farmacêutica que produza remédios genéricos de alta qualidade, reforcem as formas de transporte coletivo, utilize energias alternativas para limitar o impacto no desgaste dos recursos naturais, proteja o meio ambiente, desenvolva a integração dos sistemas educativos, entre outros.
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=280
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.
23 de Outubro de 2009, por Eric Toussaint
17 de Setembro de 2009, por Eric Toussaint
29 de Abril de 2009, por Eric Toussaint
3 de Abril de 2009, por Eric Toussaint , Damien Millet
Entrevista especial com Eric Toussaint
Esquerda traiu projeto original do socialismo2 de Abril de 2009, por Eric Toussaint
Entrevista de Eric Toussaint Por Pauline Imbach
O segundo sopro do Fórum Social Mundial24 de Fevereiro de 2009, por Eric Toussaint
14 de Fevereiro de 2009, por Eric Toussaint
26 de Dezembro de 2008, por Eric Toussaint
28 de Agosto de 2008, por Eric Toussaint , Damien Millet
20 de Março de 2008, por Eric Toussaint , Damien Millet
0 | ... | 220 | 230 | 240 | 250 | 260 | 270 | 280 | 290 | 300 | 310