Série: Os Estados ao serviço dos bancos sob o pretexto «Too big to fail» (parte 3)
5 de Setembro de 2014 por Eric Toussaint
No que diz respeito à Zona Euro
Zona euro
Zona composta por 18 países que utilizam o euro como moeda: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia (a partir da 1-01-2014), Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Portugal, Eslováquia e Eslovénia. Os 10 países membros da União Europeia que não participam na zona euro são: Bulgária, Croácia, Dinamarca, Hungria, Lituânia, Polónia, República Checa, Roménia, Reino Unido e Suécia.
, os bancos beneficiam de um privilégio: detêm o monopólio do crédito destinado ao sector público. De facto, é interdito ao BCE
Banco central europeu
BCE
O Banco Central Europeu é uma instituição europeia sediada em Francoforte e criada em 1998. Os países da zona euro transferiram para o BCE as suas competências em matéria monetária e o seu papel oficial de assegurar a estabilidade dos preços (lutar contra a inflação) em toda a zona. Os seus três órgãos de decisão (o conselho de governadores, o directório e o conselho geral) são todos eles compostos por governadores dos bancos centrais dos países membros ou por especialistas «reconhecidos». Segundo os estatutos, pretende ser «independente» politicamente, mas é directamente influenciado pelo mundo financeiro.
e aos bancos centrais que fazem parte do euro-sistema concederem crédito às administrações públicas (ver caixa sobre o BCE). Os governos da Zona Euro podem contornar parcialmente esta proibição, pedindo empréstimos aos bancos públicos (nos países em que estes ainda existam) mas até hoje sempre recusaram pôr em prática essa possibilidade.
Ora os bancos privados financiam-se principalmente, desde 2008, recorrendo a entidades dependentes do poder público (o BCE e os bancos centrais dos países do euro-sistema), a taxas de juro Juro Quantia paga em retribuição de um investimento ou um empréstimo. O juro é calculado em função do montante do capital investido ou emprestado, da duração da operação e de uma taxa acordada. extremamente vantajosas. Desde junho de 2014, pedem empréstimos ao BCE a uma taxa de 0,15 % (quando a taxa de inflação foi em 2013 da ordem dos 0,8 % na Zona Euro, isto significa que os bancos pagam uma taxa de juro inferior à inflação, ou seja, uma taxa real de juro negativa). A 4 de setembro 2014 o BCE voltou a baixar a taxa, que é agora de 0,05 %. A seguir, esses mesmos bancos emprestam dinheiro aos países europeus da Periferia (Espanha, Itália, Portugal, Grécia, Irlanda, Chipre e aos países de Leste membros da Zona Euro), exigindo taxas de juro nitidamente mais altas, para não dizer exorbitantes (entre 3 e 7 %, no caso das taxas aplicadas em junho de 2014). Emprestam à França, à Bélgica e à Holanda a taxas ligeiramente inferiores a 2 % e à Alemanha a 1,6 % (taxas praticadas em junho de 2014). Em setembro-2014 os bancos emprestaram a Portugal com uma taxa de juro ligeiramente superior a 3 %, quando já estavam a ter crédito do BCE a 0,05 %! Belo negócio para os bancos!
O Banco Central Europeu
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Tradução: Rui Viana Pereira
Revisão: Maria da Liberdade
Eric Toussaint, docente na Universidade de Liège, preside ao CADTM Bélgica e é membro do conselho científico da ATTAC França. É autor dos livros Bancocratie, Aden, 2014, http://cadtm.org/Bancocratie; Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marselha, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010.
[1] Onze países criaram a Zona Euro* em 1999 (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal), aos quais se juntaram a Grécia em 2001, a Eslovénia em 2007, o Chipre e Malta em 2008, a Eslováquia em 2009, a Estónia em 2011 e a Letónia em 2014. Ver: http://www.touteleurope.eu/actualite/carte-des-pays-membres-de-la-zone-euro.html
[2] Tratado sobre o funcionamento da União Europeia, artigo 282º.
[3] Desde o início da crise, a Fed comprou por mais de 2,4 biliões de dólares títulos do Tesouro norte-americano (em outubro de 2014, o volume total de títulos do Tesouro na posse da Fed atingirá 2,450 biliões), o que representa 18 % do volume total dos títulos do Tesouro em circulação. Fonte: Natixis, EcoHebdo, 25 de julho de 2014, n.° 29, http://cib.natixis.com/flushdoc.aspx?id=78192. Atenção, contrariamente a uma ideia corrente, a Fed não compra títulos do tesouro directamente, compra-os através de operações open market aos bancos privados, que as adquiriram previamente. Ver a legislação dos EUA nesta matéria: http://www.federalreserve.gov/aboutthefed/section14.htm. O mesmo acontece com o Banco de Inglaterra.
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.
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