Parte 4 da série: A Pandemia do Capitalismo, o Coronavírus e a Crise Econômica
6 de Julho de 2020 por Eric Toussaint
Enquanto os Estados Unidos são abalados desde finais de maio de 2020 por uma multitude de grandes manifestações antirracistas [1] e a epidemia de covid-19 fustiga as classes trabalhadoras da maior potência mundial (em 30/junho/2020 havia oficialmente nos EUA 2,6 milhões de pessoas afetadas por covid-19 e quase 130.000 mortes devidas ao vírus corona), uma série de dados econômicos mostra muito claramente a direção tomada pelas autoridades de Washington durante a crise social e econômica mais grave desde a década de 1930. Trata-se da continuação das medidas tomadas nos últimos anos desde a crise de 2008, de modo algum acompanhada de contrapartidas e avanços sociais indispensáveis ao bem-estar da população, ao contrário do que aconteceu no âmbito do New Deal a partir de 1933.
Num programa de rádio, em fevereiro de 1968, menos de dois meses antes do seu assassínio por um defensor da segregação racial, Martin Luther King afirmou: «O problema é que muitas vezes temos socialismo para os ricos e capitalismo selvagem de livre empreendimento para os pobres.» [2]
Esta caracterização da política estado-unidense corresponde com exatidão às medidas tomadas desde março de 2020 pela administração do presidente Donald Trump e pelo banco central Banco central Estabelecimento que, num Estado, tem a seu cargo em geral a emissão de papel-moeda e o controlo do volume de dinheiro e de crédito. Em Portugal, como em vários outros países da zona euro, é o banco central que assume esse papel, sob controlo do Banco Central Europeu (BCE). dos EUA, no quadro de um acordo entre o Partido Republicano e o Partido Democrata, os dois grandes partidos que se alternam no poder para defender os interesses fundamentais do Grande Capital.
Assim que Trump se tornou presidente do país, deu enormes benefícios fiscais às grandes empresas e às pessoas mais ricas.
Mas, no final de 2018, Wall Street sofreu uma queda de mais de 10 % numa sessão antes do Natal. O Fed reagiu imediatamente, indo ao socorro de Wall Street e tornando mais uma vez muito barato o refinanciamento das dívidas das grandes empresas privadas.
Wall Street recuperou rapidamente algum alento, mas a partir de setembro de 2019 estourou uma crise no mercado dos acordos de recompra, porque os bancos já não confiavam mais uns nos outros. No espaço de três meses, a Fed injetou 1000 bilhões de dólares no mercado interbancário e a especulação Especulação Operação que consiste em tomar posição no mercado, frequentemente contracorrente, na esperança de obter um lucro. continuou em Wall Street, enquanto a economia dos EUA abrandava e até entrava em recessão em alguns sectores.
Os principais bancos e outras grandes empresas americanas distribuem dividendos aos montes e compram de volta suas ações, tanto para induzir artificialmente uma alta, como para enriquecer os grandes acionistas e executivos que vendem as suas stock options [3].
Em relação às classes trabalhadoras
Entre meados de Março, quando o confinamento foi progressivamente decretado nos Estados Unidos, e o final da primeira semana de Junho de 2020, 44 milhões de residentes da primeira potência do mundo ficaram desempregados. A taxa de desemprego oficial, que subestima grosseiramente a situação real, chegou a 13,3 %, contra 3,5 % no início do ano.
A taxa de desemprego oficial chegou a 13,3 %, contra 3,5 % no início do ano
As classes trabalhadoras foram muito afetadas pela crise multidimensional: perda de renda, perda de emprego, elevado número de mortes devidas à covid-19 e à dificuldade de acesso a meios de proteção e a tratamentos de qualidade, confinamento em apartamentos exíguos, obrigação de continuar a trabalhar em condições perigosas – a fim de assegurar um rendimento e manter o emprego –, incluindo em atividades não essenciais, repressão policial e racial. As mulheres das classes trabalhadoras são ainda mais afetadas que os homens, pois estão na primeira linha de uma série de profissões essenciais. Além disso sofrem a opressão patriarcal no seio da família ou têm de cuidar sozinhas do lar e das crianças.
No âmbito das medidas tomadas pelo Congresso dos EUA com o apoio de Republicanos e Democratas, parte das classes trabalhadoras, nomeadamente uma parte dos desempregados, recebem prestações que são apresentadas como generosas. Estas ajudas são prestadas em resultado da aplicação do Coronavirus Aid, Relief, and Economic Security Act, também chamado CARES Act, que visa lutar contra as consequências econômicas da pandemia de covid-19 nos EUA.
As classes trabalhadoras foram muito afetadas pela crise multidimensional
Cada contribuinte com rendimento anual inferior a 75.000 dólares recebeu do Estado federal um cheque único de $1200. [4] Além disso, os desempregados indemnizados recebem um bônus de $600 por semana (chamado unemployment insurance top off). Esse bônus pode em princípio ser recebido durante um período máximo de 4 meses. De acordo com a CARES Act, esse subsídio complementar de desemprego termina a 31 de julho de 2020. [5] As pessoas endividadas podem adiar o pagamento de algumas dívidas, nomeadamente as dívidas hipotecárias.
Na realidade, porém, é o Grande Capital que, mais uma vez, tem os favores de Washington (ver adiante). Os montantes recebidos sob a forma de ajuda pública aliviam a tesouraria das empresas (graças ao desemprego parcial suportado pelos poderes públicos), mantêm um certo nível de consumo (graças ao cheque de $1200 e ao abono semanal de $600 para os desempregados com direito a subsídio), asseguram a sobrevivência dos mais pobres (e, por conseguinte, a reprodução da mão de obra que foi forçada ao desemprego), permitindo-lhes continuar a pagar o aluguer da casa, a dívida hipotecária ou a dívida de ensino, e visam evitar que eles se revoltem e que não tenham outra saída senão assaltar os supermercados. Estas prestações pagas no âmbito do plano bipartidário não passam de migalhas, quando comparadas ao bolo oferecido aos mais ricos.
É preciso lembrar que nos EUA 39 milhões de pessoas não têm rede de saúde. Além disso, ao perderem o emprego, perdem em muitos casos o seguro de saúde. Além disso, estima-se que haja 11 a 12 milhões de pessoas sem documentos legais; essas, evidentemente, não receberam o cheque de 1200 dólares, por não serem considerados contribuintes (embora paguem toda espécie de impostos).
Segundo Alexandria Ocasio-Cortez, a CARES Act é a maior ajuda às empresas de toda a história americana e apenas oferece migalhas para as famílias
Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) [6] não se deixou enganar e foi a única deputada eleita pelo Partido Democrata a votar contra a Coronavirus Aid, Relief, and Economic Security Act (CARES Act) [7]. Ela denunciou este programa «anticrise» como «a maior ajuda às empresas» da «história americana», que oferece apenas «migalhas para as nossas famílias» [8]. A reação de Wall Street não se fez esperar. Várias de suas figuras proeminentes decidiram impedir a reeleição de AOC para o Congresso, pelas listas do Partido Democrático. [9]
David Solomon (presidente da Goldman Sachs) e Steve Schwarzman (presidente do fundo de investimento Blackstone) vieram publicamente apelar ao voto em Michelle Caruso-Cabrera, a rival de AOC nas eleições primárias do Partido Democrata, a 23 de junho de 2020, em Nova York (14.º distrito, que agrupa os bairros do Bronx e de Queens). Elliot Management, o hedge fund especializado nas ações do fundo abutre de Paul Singer, também anunciou o seu apoio a M. Caruso-Cabrera, tentando assim evitar a reeleição de AOC. O mesmo aconteceu com o banco de negócios Lazard e com John Paulson, patrão do fundo de investimento Paulson & Co., que se tornou célebre em 2008 por ter lucrado com a crise dos subprime. A lista dos banqueiros e advogados de negócio, incluindo republicanos notórios que fazem campanha contra AOC, revela o papel ativo desempenhado pela Wall Street nas eleições. O Financial Times tornou-a pública no seu site pago. Note-se que a adversária política de AOC, M. Caruso-Cabrera, foi membro do Partido Republicano pelo menos até 2015 e escreveu em 2010 um livro intitulado You Know I’m Right («Vocês sabem que eu tenho razão» ou «Vocês sabem que eu sou de direita»), onde afirma que Ronald Reagan foi o seu presidente preferido. AOC declarou ao Financial Times: «Não me surpreende que os republicanos financiem a campanha de uma republicana de longa data numa campanha para as primárias democratas. Enquanto nós lutamos contra o poder das grandes empresas privadas, propondo políticas favoráveis aos trabalhadores americanos, esses doadores preferem financiar um candidato que responde à voz de Wall Street e não às necessidades dos nossos eleitores.» [10]
Contudo, a tentativa de impedir a reeleição fracassou: Alexandria Ocasio-Cortez obteve em 23/06/2020 mais de 73 % dos votos nas primárias. É um balde de água fria para Wall Street e para o establishment do Partido Democrata, que bem gostaria de se ver livre desta mulher tão incômoda politicamente, tão claramente de esquerda e a favor das classes trabalhadoras.
Note-se que Bernie Sanders votou a favor do CARES Act. Embora tenha expressado algumas críticas, sublinhou os aspetos positivos do programa (ver sua intervenção no Senado). A senadora Elizabeth Warren também votou a favor do CARES Act.
No que diz respeito ao grande capital / os 1 %
No âmbito das medidas a favor do Grande Capital, mais de 500 bilhões de dólares vão direto para as grandes empresas privadas, como denunciou Robert Brenner num artigo publicado no New Left Review, maio-junho/2020, com o título «Pilhagem e Pandemia» («Plunder and Pandemic»).
Por seu lado, o Financial Times consagrou um grande dossier às medidas adotadas no âmbito do CARES Act que mostra que os muito ricos vão ser muito mais beneficiados do que as classes trabalhadoras, seja sob a forma de ajudas diretas (sem que sejam implementados mecanismos que condicionem a utilização das ajudas), seja sob a forma de colossais benefícios fiscais [11]. Este jornal calcula em mais de 600 bilhões o montante que vai para as grandes empresas, para os acionistas e para os muito ricos; acresce a isso as ajudas à saúde, que vão sobretudo para os acionistas dos hospitais privados e para os seguros privadas de saúde. O título do quotidiano financeiro dispensa comentários: «Por que a Resposta Americana à Pandemia se Arrisca a Aumentar o Fosso Económico». Ficamos a saber que em virtude do CARES Act o código fiscal foi modificado em proveito dos muito ricos, na continuação do que Trump e seus predecessores já tinham feito em seu favor. 82 % dos que vão beneficiar de alívios fiscais ganham mais de 1 milhão de dólares por ano, enquanto apenas 5 % ganham anualmente menos de 200.000 dólares (o que inclui contribuintes com renda alta). Os ricos vão poder reduzir radicalmente os seus impostos – com efeito retroativo, o que lhes permitirá obter um reembolso dos impostos já pagos, sem pagarem mais ou muito pouco durante vários anos. Os especuladores que se endividaram para adquirirem empresas, pilhando-as a fim de reembolsarem os seus credores, vão também beneficiar de reduções de impostos, ao abrigo do CARES Act. As perdas de rendimento do Tesouro público vão ser monumentais, uma vez que os presentes fiscais oferecidos ao Grande Capital se elevam a mais de 175 bilhões de dólares (essa é a estimativa oficial, mas as perdas serão certamente muito mais elevadas). O défice público e a dívida pública Dívida pública Conjunto dos empréstimos contraídos pelo Estado, autarquias e empresas públicas e organizações de segurança social. vão explodir. No mesmo dossier do Financial Times pode ler-se que as duas maiores companhias aéreas (American Airlines e Delta) vão receber respectivamente 5,8 bilhões de dólares e 5,4 bilhões de dólares de ajudas, ao mesmo tempo que suprimem milhares de empregos. [12]
De certa maneira, a lei CARES faz funcionar o escoamento (trickle down) ao contrário do mecanismo habitualmente descrito. Segundo os partidários do trickle down (quer se trate dos neoliberais norte-americanos ou de Macron), ao darmos aos ricos, ajudamos os pobres, que acabariam por aproveitar os efeitos benéficos que «gotejam» para baixo uma parte da sua riqueza. Uma reflexão mais atenta mostra que a CARES Act distribui uma ajuda temporária às classes trabalhadoras que lhes permite continuarem pagando suas dívidas aos bancos, manter-se disponíveis no mercado de trabalho e continuar a fazer compras no comércio dominado pelas grandes empresas privadas. Finalmente, o dinheiro distribuído pelos poderes públicos às classes trabalhadoras, de forma excepcional e temporária, regressa ao bolso dos mais ricos, através das empresas que possuem.
Seguindo este raciocínio, podemos afirmar que o dinheiro público atribuído de urgência principalmente em favor dos mais ricos vai aumentar a dívida pública, que será paga principalmente pelas classes trabalhadoras. De facto, são elas quem paga as taxas e impostos mais altos, enquanto os ricos veem seus impostos fortemente reduzidos, graças às medidas tomadas no quadro da CARES Act. Por consequência, grande parte das dívidas públicas pode ser considerada como ilegítima, pois é acumulada para favorecer os interesses duma minoria privilegiada.
Por outro lado, a CARES Act pretende ajudar as pequenas empresas, mas na realidade damo-nos conta que a esmagadora maioria das pequenas empresas não tem acesso a essas ajudas, pois a parte de leão cabe às grandes empresas. De facto, as grandes empresas utilizam pequenas filiais para poderem ter acesso a essas ajudas. Conseguiram apoderar-se da maior parte das somas disponíveis (ou seja, mais de metade dos 350 bilhões de dólares previstos), antes das autênticas pequenas e médias empresas terem conseguido fazer os seus pedidos dentro do prazo previsto. Note-se também que as prestações passam pelos bancos, o que aumenta sua força.
Além deste plano de mais de 2000 bilhões de dólares do Governo Federal, [13] o Fed interveio ainda mais maciçamente. Enquanto Wall Street tinha mergulhado mais de 20 % entre 17 de Fevereiro e 17 de Março de 2020 (isto é, antes do início do confinamento) e o mercado das dívidas das grandes empresas (corporate bonds market) estadunidenses estava à beira da implosão, a Reserva Federal gastou 3000 bilhões de dólares entre o final de Março e o início de Junho para ajudar o grande capital.
Esta intervenção maciça da Fed pretende evitar reveses ao grande capital, enquanto uma crise financeira monumental afeta os Estados Unidos.
A partir de 17 de Fevereiro de 2020, a bolha bolsista que se tinha formado nos anos anteriores murchou a um ritmo impressionante. O declínio foi desencadeado pelos grandes acionistas, que, conscientes de que a festança poderia acabar abruptamente com o desenvolvimento da epidemia de coronavírus e suas consequências econômicas, decidiram tomar a iniciativa e começaram vendendo grandes pacotes de ações. Essa situação afetou Wall Street e o resto das bolsas mundiais acompanhou o movimento de baixa, perdendo entre 20 e 40 % entre 17 de Fevereiro e 17 de Março de 2020.
Note-se que enquanto os preços das ações despencavam, os principais bancos acumulavam receitas importantes, porque são os principais intermediários para a venda e compra de ações. Recebem uma comissão para cada transação em bolsa em que estejam envolvidos. As receitas dos principais bancos relacionadas com estas comissões aumentaram 30 % entre Fevereiro e Março de 2020.
Os grandes acionistas também intervêm ativamente nos mercados bolsistas, vendendo no início da sessão a um preço relativamente elevado e, posteriormente, comprando de volta quando o preço começa a subir. Aliás, o preço pode subir precisamente porque começam a comprar de volta aquilo que tinham vendido na manhã ou na véspera.
O bilionário Akman gabou-se em abril de 2020 de ter ganho 2,6 bilhões de dólares em plena baixa dos mercados bolsistas
Os grandes capitalistas também estão lucrando, apostando maciçamente na baixa. É assim que, em abril de 2020, o bilionário Akman – patrão do hedge fund Pershing Square – gabou-se de ter ganho 2,6 bilhões de dólares em plena baixa dos mercados bolsistas. [14] Explicou que tinha feito um seguro, que lhe pagou 27 milhões de dólares, para se proteger do crash do mercado bolsista. Recordemos que um especulador pode fazer um seguro contra riscos de perdas de valor de um pacote de ações, mesmo que não as tenha comprado. Isso deu origem, durante a crise de 2008, à seguinte comparação: é como se pudéssemos fazer um seguro contra incêndio na casa do vizinho, que não é nossa, e depois lhe botássemos fogo para recebermos a indemnização. Foi mais ou menos isso que fez Akman, ao multiplicar avisos alarmistas sobre a amplidão da queda das transações bolsistas em fevereiro-março de 2020, quando ganharia tanto mais dinheiro quanto mais forte fosse a queda. Graças a sua operação especulativa, ganhou 100 vezes mais do que tinha investido de início.
Desde 23 de Março de 2020, o Fed está mobilizando fartos recursos para conter a queda de Wall Street (que em si não é nada de dramático para o resto da sociedade) e, no prazo de três meses, comprou aos bancos títulos de dívida no valor de 3000 bilhões de dólares, o que provocou uma retomada de Wall Street. Entre 17 de Março e 5 de Junho, Wall Street recuperou o nível anterior a 17 de Fevereiro. Precisão técnica importante: a Fed compra principalmente títulos de dívida pública (em muito maior quantidade do que as obrigações Obrigações Parte de um empréstimo emitido por uma sociedade ou uma coletividade pública. O detentor da obrigação, ou obrigacionista, tem direito a um juro* e ao reembolso do montante subscrito. Obrigações também podem serem negociadas no mercado secundário. das empresas privadas, que também compra). Como a Fed compra esses títulos públicos (treasuries) aos bancos, estes podem utilizar o dinheiro recebido como bem lhes apetece: comprar obrigações das empresas privadas ou emprestar-lhes dinheiro é uma de suas atividades. Por isso comprar aos bancos títulos da dívida pública constitui o principal instrumento da Fed para injetar meios financeiros suplementares nos mercados financeiros em proveito dos bancos, dos grandes fundos de investimento e das grandes empresas privadas, sejam elas industriais, comerciais ou outras. No decurso dos últimos meses, a Fed também começou a comprar títulos financeiros privados: obrigações de empresas e produtos financeiros Produtos financeiros Produtos adquiridos durante o exercício duma empresa que dizem respeito a elementos financeiros (títulos, contas bancárias, divisas, investimentos de capital). estruturados (CDO, CLO, MBS, CMBS, etc.).
O diretor da Fed deixou muito claro que o objetivo era evitar o colapso do mercado de dívidas privadas das grandes empresas (corporate bond market). E, desse ponto de vista, por enquanto, está tendo sucesso. [15]
Recordemos que uma obrigação é um título de dívida (um reconhecimento de dívidas) emitido por uma empresa. Essa obrigação é entregue ao portador e dá direito a uma percentagem de juros anuais. Quando a obrigação atinge o prazo de maturidade previsto (esse prazo pode variar de 1 ano a 30 anos, ou até mais), a empresa que a emitiu tem de pagar o seu valor facial, isto é, o montante impresso no rosto do título, que costumava ser em papel. Entretanto a obrigação pode ter mudado de proprietário dezenas, centenas ou milhares de vezes. O mercado obrigacionista é o «lugar» onde as obrigações são compradas e vendidas.
Graças ao fluxo de dólares da Fed, as grandes empresas, apesar de estarem em dificuldades, puderam continuar a contrair empréstimos nos mercados sob a forma de venda de obrigações que emitem. É o caso de grandes bancos como o Citigroup (3.º maior banco dos Estados Unidos), Wells Fargo (4.º maior banco), Morgan Stanley (6.º maior banco). O Citigroup e o Wells Fargo emitiram obrigações com maturidade em 2051. A Northrop Grumman, uma das principais empresas mundiais de material militar, emitiu obrigações com vencimento em 2050. A Intel, a principal empresa americana de semicondutores, emitiu obrigações a 30 anos. A Fox, Walt Disney, Coca-Cola, UPS, também emitiram obrigações a longo prazo.
Estes títulos foram vendidos facilmente porque ofereceram rendimentos muito mais elevados do que os títulos de dívida pública, que estão próximos de 0 %. Ficaram até muito atrativos...Quando os grandes fundos de investimento foram definitivamente tranquilizados quanto às intenções da Fed, que lhes mostrou que faria de tudo para salvar o mercado de obrigações (corporate bonds market), começaram a comprar no mercado secundário obrigações emitidas recentemente, aceitando pagar mais do que o preço de emissão.
Por exemplo, as obrigações vendidas pela Morgan Stanley em 19 de Março (em plena queda bolsista) por um total de 2 bilhões de dólares, eram negociadas por mais 50 % em 12 de Junho de 2020. Em termos simples, uma obrigação de 100 dólares que a Morgan Stanley vendeu em 19 de Março por 98 dólares, seria revendida em 12 de Junho ao preço de 148 dólares. Em 24 de Março de 2051, quando o último detentor de uma obrigação Morgan Stanley emitida em 19 de Março de 2020 se apresentar para resgate do seu investimento, terá direito a receber 100 dólares. Entretanto, o preço desta obrigação terá fortemente mudado ao sabor das circunstâncias. Atualmente, está totalmente sobrevalorizado, em resultado do novo frenesim de compra de obrigações favorecido e desejado pela Fed.
Repare-se que um especulador (geralmente uma grande empresa financeira privada: um banco, um fundo de investimento, um hedge fund) que compra uma obrigação com o valor facial de 100 pelo preço de 150, quando ela rende um juro Juro Quantia paga em retribuição de um investimento ou um empréstimo. O juro é calculado em função do montante do capital investido ou emprestado, da duração da operação e de uma taxa acordada. anual de 6 %, ao chegar ao pagamento do cupão receberá um rendimento de 4 %, [16] o que é mais vantajoso que um título do Tesouro americano, que grosso modo varia entre 0 % e 1 %. Se o preço da obrigação cair muito fortemente no mercado de obrigações, o especulador que a compra a 60 receberá um juro de 6 % calculado sobre um valor facial de 100, o que lhe garante um rendimento de 10 %. Por outro lado, o especulador pode ganhar ou perder no momento de revenda da obrigação (antes do prazo de maturidade); se comprar a 100 no momento da emissão e a revender a 150 em pleno boom do preço, como acontece atualmente, terá um benefício de 50. Se quem a comprar por 150 apanhar a seguir com um movimento de queda do preço no mercado de obrigações e decidir vender, pode «sofrer» uma perda. Se, para obter dinheiro para pagar uma dívida, tiver de vender a obrigação por exemplo por 120, irá perder 30 em relação ao preço que pagou.
Poderia também mencionar as obrigações emitidas pela Intel em Março de 2020 ao preço de 98 dólares, que são revendidas por 144 dólares e vencerão em 25 de Março de 2060. Mais marcante ainda, como indicação do carácter fictício deste tipo de capital: os títulos podres vendidos pela empresa Avis Budget Car Rentals, que está à beira de declarar falência, estão a vender por 15 % mais do que o seu valor nominal. [17] Assim, uma obrigação de 100 dólares emitida pela Avis em Maio de 2020 foi vendida no início de Junho a 115 dólares, apesar de sabermos que esta empresa poderia ir à falência antes do vencimento da obrigação em cinco anos.
As obrigações emitidas pela empresa automóvel Ford em Abril de 2020, que tinham sido rebaixadas pelas agências de rating para títulos podres (junk bonds), estavam a ser vendidas no início de junho a um nível 19 % superior ao do momento da emissão. O mesmo aconteceu com as obrigações emitidas pela Viking, empresa especializada em navios de cruzeiro (também à beira da falência), que recentemente registram uma valorização de 15 %.
Continua a especulação no mercado obrigacionista em muito grande escala, com uma sobrevalorização impressionante do preço dos títulos financeiros
Aí está a prova clara da continuação da especulação
Trading
especulação
Operação de compra e venda de produtos financeiros (acções, futuros, produtos derivados, opções, warrants, etc.) realizada na mira de obter um lucro a curto prazo.
no mercado obrigacionista em muito grande escala, com uma sobrevalorização impressionante do preço dos títulos financeiros. Os mercados deveriam ser capazes de avaliar a solvabilidade de uma empresa emitente de dívida. Na realidade, porém, os grandes compradores nos mercados financeiros preocupam-se muito pouco com a solidez das empresas que contraem empréstimos; o seu objetivo é obter lucros a curto prazo. Consideram que poderão sempre revender a tempo os títulos emitidos por empresas em dificuldades.
Enquanto alguns utilizam a expressão «dinheiro de helicóptero para o povo» para designar a política da administração Trump e da Fed para enfrentar a atual crise econômica, temos que denunciar o «dinheiro de helicóptero para Wall Street», isto é, as impressionantes e generosas somas disponibilizadas ao grande capital americano na Bolsa de Nova Iorque.
Se a Reserva Federal não tivesse mobilizado «inúmeros recursos» para poupar Wall Street das dificuldades e perdas, os grandes acionistas teriam tido de suportar perdas muito grandes, o que não teria sido nenhuma tragédia.
Por que falar em «capital de risco» se não há risco real, porque o Estado protetor está sempre presente para absorver e socializar as perdas dos capitalistas? Esses podem agradecer tanto a Fed como os dirigentes republicanos e democratas por lhes permitirem não «sofrer», mas aumentar a sua parte do bolo. As desigualdades estão aumentando e o 1 % mais rico aumenta seus privilégios, rendimentos e riqueza.
Como demonstra a queda de quase 6 % em Wall Street, em 11 de Junho de 2020, um «acidente» financeiro pode, de novo, abalar Wall Street, que está sentada numa montanha de dívidas privadas.
Esse acidente financeiro foi provocado por grandes acionistas e pelos hedge funds que querem embolsar a diferença entre o preço por que compraram as ações quando elas baixaram ou recomeçaram a subir e o preço que elas tinham atingido no momento mais alto de 8 de junho de 2020. Quem vendeu grandes carteiras de ações na manhã de 9 de junho, embolsou uma grande quantia e pôde eventualmente reinvestir a 12 de junho, voltando a comprar as mesmas ações a melhor preço e obtendo assim um lucro Lucro Resultado contabilístico líquido resultante da actividade duma sociedade. O lucro líquido representa o lucro após impostos. O lucro redistribuído é a parte do lucro que é distribuída pelos accionistas (dividendos). .
De qualquer forma, podem contar com a boa vontade da Fed e com a dupla Republicanos-Democratas, que farão quanto for necessário para que tudo continue a correr bem … pelo menos para o Grande Capital.
A partir de meio do primeiro trimestre de 2020, quando o preço das ações na bolsa caiu e a coisa cheirava a esturro, os bancos se apressaram a distribuir dividendos. Embora tenham tido 18,5 bilhões de lucros (ou seja, 70 % menos que no primeiro trimestre de 2019), distribuíram aos acionistas dividendos num montante que representa quase o dobro, ou seja, 32,7 bilhões de dólares. Além disso aumentaram fortemente as provisões para perdas, que passaram de 13,9 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2019 para 52,7 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2020, quase o quádruplo. Em suma, retribuíram um máximo de dinheiro aos seus acionistas e declararam uma perda de lucros, nomeadamente em resultado do aumento de provisões, o que lhes permite pagar ainda menos impostos sobre os lucros. Isso levou a autoridade de controlo, a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), a pedir explicações. [18] É claro que nada disso levará à aplicação de sanções.
Na mesma proporção em que veem diminuído seu rendimento, os montantes das dívidas a pagar pesam muito nos agregados familiares das classes trabalhadoras. Aquando da crise precedente, que teve início em 2006-2007, as dívidas hipotecárias representaram o principal problema para os meios populares. 12 milhões de famílias foram expulsas de suas casas a partir de 2008, por não poderem pagar os empréstimos hipotecários.
Na fase seguinte, foram as dívidas dos estudantes que aumentaram mais: duplicaram em 10 anos e atingiram um montante de mais de 1650 bilhões de dólares. É frequente encontrarmos contribuintes esmagados pelo peso do reembolso de uma dívida contraída para poder realizar estudos universitários, num montante superior a 50.000 dólares. No quadro da CARES Act não existe uma medida de anulação das dívidas dos estudantes. Há apenas a possibilidade de adiar temporariamente os pagamentos, se for entregue um pedido formal em boa hora e plena forma.
As dívidas de consumo também aumentaram, o que revela bem a queda do poder de compra das famílias trabalhadoras. E por fim as dívidas contraídas para compra de automóvel também aumentaram.
É uma evidência que as famílias trabalhadoras fazem pouco uso da possibilidade de protelar o pagamento de suas dívidas. Preferem continuar a reembolsar seus credores, utilizando uma parte do cheque único de 1200 dólares, ao qual, nalguns casos, acresce o suplemento de desemprego de 600 dólares por semana. Os banqueiros estão contentes, as sociedades imobiliárias também. Os «pobres» são bons pagadores.
É muito claro que esta política não tem nada a ver com o new deal de Franklin Roosevelt aplicado a partir de 1933, [19] nem com o keynesianismo em voga até aos anos 70. Desta vez: nenhum avanço dos direitos sociais; nenhuma imposição de uma forte disciplina financeira aos bancos; nenhum esforço fiscal imposto aos mais ricos, para tomar apenas três critérios.
Recordemos que, no âmbito do new deal nos Estados Unidos e das políticas keynesianas que foram estendidas à Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial, sob pressão de grandes mobilizações populares, os direitos sociais foram significativamente melhorados, foi instaurada uma proteção social significativa, os bancos de negócio foram separados dos bancos de depósito e a taxa de imposto sobre os rendimentos mais altos atingiu 80 % nos Estados Unidos. Poder-se-ia acrescentar que as desigualdades na distribuição do rendimento e da riqueza foram reduzidas, que na Europa Ocidental sectores-chave da economia foram nacionalizados (França, Itália, Grã-Bretanha, etc.); que o sistema de saúde pública se desenvolveu significativamente (em especial a introdução do Serviço Nacional de Saúde no Reino Unido), etc.
Nessa época, o Grande Capital foi obrigado a fazer concessões às classes trabalhadoras, que se mobilizaram fortemente. O governo do presidente Roosevelt, que pretendia reformar o capitalismo para o salvar e consolidar, teve de se bater com o Supremo Tribunal, que tentou anular várias das suas medidas. Roosevelt, pressionado pela radicalização à esquerda das classes trabalhadoras, conseguiu contrariar as decisões do Supremo Tribunal e impor medidas fortes, incluindo a abertura a que os sindicatos se reforçassem dentro das fábricas e os trabalhadores recorressem à greve para conquistar concessões aos patrões. Foi também sob pressão de greves e mobilizações que em 1936, na França, o governo da Frente Popular concedeu férias pagas. Na França, Itália, Bélgica, após a Segunda Guerra Mundial, os governos fizeram concessões às classes trabalhadoras para garantirem a paz social e avançar na reconstrução das economias, evitando assim a eclosão de um processo revolucionário, num contexto em que uma parte das classes trabalhadoras dispunha de armas obtidas durante a resistência armada contra a ocupação nazi.
Nada disto está na agenda dos governantes, dos dirigentes e proprietários de grandes empresas. Pelo contrário, veem nesta crise uma nova oportunidade para aumentar a precariedade dos contratos de trabalho, para baixar o custo da mão de obra: tanto as contribuições dos empregadores como os salários líquidos. Veem também a oportunidade de despedir massivamente, continuando a receber ajudas do Estado. Grandes empresas estadunidenses e europeias estão a anunciar planos de despedimentos que abrangem milhares ou dezenas de milhares de empregos.
Os governos e o Grande Capital só abandonarão a continuação desta ofensiva contra os interesses da esmagadora maioria da população se mobilizações muito poderosas os obrigarem a fazer concessões.
Entre os novos ataques a que é preciso resistir: a aceleração da robotização/automação do trabalho; a generalização do teletrabalho, que isola os assalariados e os torna ainda menos senhores do tempo, obrigando-os a assumir uma série de custos de produção (os seus instrumentos de trabalho), que não estariam a seu cargo se trabalhassem fisicamente nas empresas; novos ataques contra o ensino público e um desenvolvimento de ensino a distância que aumenta as desigualdades culturais e sociais; o reforço do controlo sobre a vida privada e sobre os dados privados; o reforço da repressão; etc.
A questão das dívidas públicas volta a estar no centro das batalhas sociais e políticas. Atualmente as dívidas públicas engordam, porque os governos recorrem massivamente ao endividamento público para evitar impor impostos aos ricos [20] na luta contra os efeitos da epidemia de covid-19 e em breve, com o pretexto de reembolsar essas dívidas, voltarão à ofensiva com medidas de austeridade. Por consequência, a luta pela anulação das dívidas públicas ilegítimas tem de tomar novo alento. As dívidas privadas ilegítimas reclamadas às classes trabalhadoras também vão pesar cada vez mais na vida quotidiana. Vai ser preciso reforçar o combate pela sua anulação.
As lutas que eclodiram em vários continentes durante o mês de junho de 2020, designadamente as lutas antirracistas massivas sob o mote Black Lives Matter, mostram que as classes trabalhadoras e a juventude não aceitam o statu quo.
É preciso contribuir tanto quanto possível para que um novo e poderoso movimento social e político seja capaz de ajudar a convergência das lutas sociais e contribuir para a elaboração de um programa de ruptura com o capitalismo, pondo em destaque soluções anticapitalistas, antirracistas, ecologistas, feministas e socialistas.
É fundamental lutar pela socialização dos bancos com expropriação dos grandes acionistas; pela suspensão do pagamento da dívida pública com realização de auditorias com participação pública, a fim de repudiar a parte ilegítima da dívida; pela criação de um imposto de crise muito elevado sobre os mais ricos; pela anulação das dívidas reclamadas de forma ilegítima às classes trabalhadoras (dívidas estudantis, dívidas hipotecárias abusivas, etc.); pelo encerramento das bolsas de valores, que são locais de especulação; pela redução radical do tempo de trabalho (mantendo os salários), a fim de criar um grande número de empregos socialmente úteis; pelo aumento radical das despesas públicas de saúde e educação; pela socialização das empresas farmacêuticas e do sector da energia; pela relocalização, tão vasta quanto possível, da produção e pelo desenvolvimento de circuitos de proximidade, além de outras reivindicações essenciais.
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O Autor agradece a Anne-Sophie Bouvy, Virginie de Romanet, Nathan Legrand, Brigitte Ponet e Claude Quémar pela sua releitura e sugestões. Agradece também às pessoas que traduziram este artigo.
Tradução: Alain Geffrouais e Rui Viana Pereira
[1] Alguns militantes de esquerda dos EUA não hesitam em falar de «levantamento», sublinhando a extensão do movimento (todos os Estados, incluindo pequenas cidades sem população negra, etc.) e o seu alcance. O movimento questiona a supremacia branca a tal ponto, que uma fração considerável da classe dominante parece disposta a admitir um compromisso, no sentido de limitar as mudanças futuras à retirada de estátuas e a reformas de fachada na polícia (suspender um ou outro método de estrangulamento, diminuir os orçamentos da polícia e desmilitarizá-la parcialmente) – ao passo que as reivindicações mais radicais, mas audíveis, do movimento exigem a completa desorçamentação da polícia e a sua substituição por serviços de mediação de proximidade; e, do ponto de vista histórico, não se limitam a questionar a história do esclavagismo, põem em causa toda a história racista e imperialista dos EUA.
[2] Frase original em inglês: «The problem is that we all too often have socialism for the rich and rugged free enterprise capitalism for the poor.» Fonte: Dr. Martin Luther King, Jr.: «Socialism for the Rich, Rugged Individualism for the Poor?», Truth or Fiction?, https://www.truthorfiction.com/dr-martin-luther-king-jr-socialism-for-the-rich-rugged-individualism-for-the-poor/ e https://twitter.com/KaseyKlimes/status/821836823022354432?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E821836823022354432&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.truthorfiction.com%2Fdr-martin-luther-king-jr-socialism-for-the-rich-rugged-individualism-for-the-poor%2F O senador Bernie Sanders, entre outros, refere com frequência esta frase.
Existem outras versões da mesma declaração. Sylvie Laurent, autora de uma biografia de Martin Luther King, cita esta frase famosa no seu artigo «Le dernier combat de Martin Luther King», Le Monde diplomatique, abril/2018, https://www.monde-diplomatique.fr/2018/04/LAURENT/58557, dando como referência o discurso de Martin Luther King «To Minister To The Valley», pronunciado em Miami, a 23/fevereiro/1968. Em 9/junho/2020, aquando das manifestações provocadas pelo assassínio de George Floyd, Daniel Mermet e a equipa de emissão Là-bas si j’y suis publicaram uma antiga entrevista de Sylvie Laurent que faz referência ao sentido do combate de Martin Luther King, https://la-bas.org/la-bas-magazine/entretiens/martin-luther-king-nous-avons-un-systeme-socialiste-pour-les-riches-et-le
[3] A stock-option é uma forma de remuneração variável, atribuída pelos acionistas aos dirigentes da empresa. Este sistema permite aos dirigentes comprar ações da empresa, numa data e a um preço previamente fixados. O facto de poderem, na maioria dos casos, comprar abaixo do preço de mercado permite-lhes obter lucro na revenda.
[4] Cerca de 80 milhões de contribuintes têm direito a um cheque único de 1200 dólares. Note-se que a administração federal enviou por erro cheques de $1200, num total de 1,4 bilhões de dólares, a mais de um milhão de contribuintes falecidos.
[5] CNBC, «Millions of Americans will fall off an “income cliff” when extra $600 in unemployment benefits ends next month», publicado a 23/junho/2020, https://www.cnbc.com/2020/06/23/millions-face-income-cliff-next-month-when-extra-600-dollars-in-ui-ends.html, consultado em 29/06/2020.
[6] Ver: Wikipedia em português; para uma apresentação mais aprofundada, incluindo propostas e posicionamento político, ver de preferência em francês ou em inglês.
[8] «One of “the largest corporate bailouts” in “American history” that only provided only “crumbs for our families”», https://theintercept.com/2020/04/09/coronavirus-stimulus-package-congress-vote/
[9] Ver: Financial Times, «Wall Street wallets open to Ocasio-cortez’s rival», 19-06-2020, e New York Post, «AOC rival Michelle Caruso-Cabrera gets massive donation from Wall Street giants», 18-06-2020, https://nypost.com/2020/06/18/michelle-caruso-cabrera-getting-major-funding-from-wall-street-giants/
[10] «“It’s not surprising that Republicans would finance the campaign of a life-long Republican in a Democratic primary,” Ms Ocasio-Cortez told the FT in an email. “While we have pushed against corporate power with policies that favour everyday working Americans, those donors prefer to bankroll a candidate who answers to Wall Street over the needs of our constituents”.»
[11] Financial Times, «Why the US pandemic response risks widening the economic divide», publicado a 18/06/2020, https://www.ft.com/content/d211f044-ecf9-4531-91aa-b6f7815a98e3 (texto de acesso livre consultado em 27/06/2020).
[12] Dessa forma elas obtêm o que as companhias europeias como a Air France-KLM ou Lufthansa também receberam.
[13] À data de 27 de junho, quando escrevo estas linhas e segundo as informações disponíveis, o montante total das despesas previstas na CARES Act poderia ascender a 3000 bilhões de dólares.
[14] Financial Times, «Inside Bill Ackman’s $2.6bn big short», 10-04-2020, https://www.ft.com/content/70a5566c-5c02-4dcd-9360-c2b0001f2f29
[15] Robert Brenner no artigo citado mais acima exprime a mesma opinião.
[16] Nesse caso teórico, o detentor de uma obrigação recebe um total de 6 dólares, equivalente a 6 % de 100 dólares – o valor facial da obrigação –, enquanto o preço pago para adquirir a obrigação é de 150. O cálculo a fazer é o seguinte: 6 a dividir por 150, a multiplicar dor 100 = 4 %, o que dá um rendimento de 4 %. Em inglês esse rendimento se chama yield e é portanto diferente da taxa de juro anual calculada sobre o valor facial do título, qualquer que seja o preço pago na sua aquisição. Se o portador da obrigação de um valor facial de 100 dólares a adquirir por 60 dólares, receberá 6 % de 100 dólares, ou seja, uma quantia de 6 dólares que representa um rendimento (yield) de 10 %.
[17] Financial Times, «Investors enjoy equity-like gains from rocketing bonds», 13-14 junho 2020.
[18] Financial Times, «US Banks Face Scrutiny After Dividends Exceed Profits», 17/06/2020.
[19] Sobre o New Deal, ler Howard Zinn (1967), New Deal Thought, Indianapolis, Bobbs-Merill
[20] Para mais, governos como o de Washington não hesitam em dar enormes prendas fiscais aos mais ricos e às grandes empresas privadas.
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.
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