Desde 2010 que a Grécia é o centro das atenções. A crise da dívida, gerada sobretudo pelos bancos privados, não é inédita na história da Grécia independente. Desde 1826 quatro grandes crises da dívida marcaram fortemente a vida dos Gregos. De todas as vezes as potências europeias conluiaram-se para obrigar a Grécia a contrair novas dívidas a fim de reembolsar as antigas. Este conluio das potências ditou à Grécia políticas correspondentes aos seus interesses e aos de uns quantos grandes bancos privados, dos quais eram cúmplices. De todas as vezes estas políticas visaram a captura dos recursos fiscais, para pagar a dívida, e implicaram a redução das despesas sociais e dos investimentos públicos. Sob formas variadas, a Grécia e o povo grego viram negado o exercício da sua soberania. Este facto manteve a Grécia num estatuto de país subordinado e periférico. As classes dominantes locais foram cúmplices.
Esta série de artigos analisa 4 grandes crises da dívida grega, situando-os no contexto económico e político internacional, sistematicamente ausente na narração dominante e muito raramente presente nas análises críticas.
Para financiar a guerra de independência iniciada em 1821 contra o Império Otomano e sustentar o novo Estado, o governo provisório da República Helénica contraiu dois empréstimos em Londres: um em 1824, outro em 1825. Os banqueiros de Londres, que nessa época era a principal praça financeira mundial, apressaram-se a organizar o empréstimo, tendo na mira gordos lucros.
É preciso ter em conta o contexto internacional: o sistema capitalista estava em plena fase especulativa, o que, na história do capitalismo, constitui geralmente a fase final de um período de crescimento económico forte e precede uma reviravolta que acaba por desembocar, via bolhas especulativas, num período de depressão ou de crescimento lento [1]. Os banqueiros londrinos, seguidos pelos de Paris, Bruxelas e outras praças financeiras europeias, buscavam freneticamente colocação para as enormes quantidades de liquidez de que dispunham.
Entre 1822 e 1825 os banqueiros londrinos «recolheram» 20 milhões de libras esterlinas por conta dos novos líderes latino-americanos (Simón Bolívar, Antonio Sucre, José San Martín e outros) que levavam a cabo a luta de independência contra a coroa espanhola [2]. Os dois empréstimos gregos de 1824-1825 atingiram a soma de 2,8 milhões de libras esterlinas, ou seja, 120 % do PIB do país, nessa época.
Tanto no caso grego como no caso das novas autoridades revolucionárias e independentistas latino-americanas, os novos Estados ainda mal tinham nascido e ainda não tinham sido reconhecidos internacionalmente. No que diz respeito à América Latina, a Espanha opunha-se a que os Estados europeus apoiassem financeiramente os novos Estados. Para mais, nessa época era razoável considerar que os combates pela independência não tinham terminado definitivamente. Por fim, os empréstimos foram concedidos às repúblicas, mas até então só as monarquias eram admitidas no clube dos devedores soberanos. Isto dá-nos uma ideia da sofreguidão com que os banqueiros se lançavam no risco financeiro. Emprestar a um governo provisório do Estado grego, em vias de nascer e em situação de guerra, o equivalente a 120 % de tudo o que o país produzia num ano prova claramente a vontade de encontrar, fosse qual fosse o risco, um negócio chorudo. A par dos banqueiros, os grandes industriais e comerciantes apoiavam esta ânsia, uma vez que grande parte dos empréstimos seria utilizada pelos devedores para comprar ao Reino Unido armamento, fardas, equipamentos de todo o tipo, etc.
Como se desenrolavam os empréstimos?
Os banqueiros de Londres emitiam os títulos por conta dos Estados mutuários e vendiam-nos na Bolsa da City. É importante notar que a maioria das vezes os títulos eram vendidos abaixo do seu valor facial (ver ilustração: um título de 1825, no valor de 100 libras). Cada título emitido por conta da Grécia com o valor facial de 100 libras foi vendido por 60 libras [3]. Assim, a Grécia obteve menos de 60 libras, descontada a enorme comissão cobrada pela banca emissora, contra o reconhecimento de uma dívida de 100 libras. Assim se compreende que um empréstimo no valor de 2,8 milhões de libras se tenha traduzido na entrega de apenas 1,3 milhões de libras à Grécia. Dois outros elementos são igualmente importantes para compreender os acontecimentos: as taxas de juro sobre os títulos gregos eram de 5 %, calculados sobre o valor facial; ou seja, as autoridades gregas tinham de entregar todos os anos 5 libras ao detentor de um título com o valor facial de 100 libras, o que constitui um excelente negócio para ele e corresponde a um rendimento real de 8,33 % (e não de 5 %). Em contrapartida, o custo para o Estado devedor é exorbitante. No caso grego, as autoridades receberam 1,3 milhões de libras, mas todos os anos tinham de pagar juros sobre 2,8 milhões. Era insustentável.
Em 1826 o governo provisório suspendeu o pagamento da dívida. Geralmente os estudos consagrados a este período histórico contentam-se em explicar a suspensão com o custo elevado das operações militares e o desenrolar do conflito.
Ora as causas do incumprimento não se situam apenas na Grécia: os factores internacionais, independentes da vontade das autoridades gregas, tiveram um papel muito importante. De facto, em inícios de 1825, rebentou na Bolsa de Londres a primeira grande crise mundial do capitalismo, resultante da bolha especulativa criada nos anos precedentes. Esta crise provocou uma queda da actividade económica, numerosas falências bancárias e uma aversão ao risco. A partir de Dezembro de 1825, os banqueiros britânicos, logo seguidos pelos outros banqueiros europeus, deixaram de emprestar ao estrangeiro e ao mercado interno. Os novos Estados, que esperavam financiar o reembolso das suas dívidas procedendo a novos empréstimos obtidos em Londres ou Paris, deixaram de encontrar banqueiros dispostos a emprestar-lhes dinheiro. A crise de 1825-1826 afectou todas as praças financeiras da Europa: Londres, Paris, Francoforte, Berlim, Viena, Bruzelas, Amesterdão, Milão, Bolonha, Roma, Dublin, São Petersburgo, … A economia entrou em depressão, centenas de bancos, empresas comerciais e fábricas foram à falência. O comércio internacional afundou-se. Segundo a maioria dos economistas, a crise de 1825-1826 constituiu a primeira grande crise cíclica do capitalismo [4].
Quando a crise rebentou em Londres, em Dezembro de 1825, a Grécia e os novos Estados latino-americanos ainda estavam a reembolsar as suas dívidas. Em contrapartida, ao longo de 1826 vários países tiveram de suspender o reembolso (Grécia, Peru e a Grande Colômbia, que incluía a Colômbia, Venezuela, Equador), pois os banqueiros recusavam-lhes novos empréstimos e a deterioração geral da situação económica e do comércio internacional diminuía os rendimentos dos Estados. Em 1828 todos os países latino-americanos independentes, do México à Argentina, estavam em suspensão de pagamento.
Em 1829 o governo provisório helénico propôs aos credores de Londres a retoma dos pagamentos, na condição de ser feita uma redução da dívida. Os credores recusaram e exigiram 100 % do valor nominal. Não foi possível chegar a acordo.
A partir de 1830, três grandes potências europeias (Reino Unido, França e Rússia [5]) constituíram a primeira Troika da história moderna grega e decidiram instaurar na Grécia uma monarquia; o trono foi entregue a um príncipe alemão. Abrem-se então negociações para saber que príncipe será escolhido pelas grandes potências: Leopoldo (da Saxónia-Coburgo-Gota), Otto (príncipe da Baviera) ou outro?
Finalmente optaram por colocar Leopoldo no trono da Bélgica, que se tornou independente em 1830; Otto von Wittelsbach foi escolhido para reinar na Grécia. Ao mesmo tempo, as três potências concordaram em ajudar os banqueiros britânicos e os diversos banqueiros europeus que tinham comprado títulos da dívida grega. Tratava-se também de exercer o máximo de pressão sobre o novo Estado grego, para levá-lo a assumir integralmente o reembolso dos empréstimos de 1824 e 1825.
Como agiu a Troika (Reino Unido, França, Rússia)?
A Troika dirigiu-se aos bancos franceses para que eles emitissem por conta da monarquia grega um empréstimo de 60 milhões de francos franceses (cerca de 2,4 milhões de libras esterlinas). O Reino Unido, a França e a Rússia ofereceram garantias aos bancos, assegurando-os de que, em caso de incumprimento do pagamento por parte da Grécia, assumiriam eles mesmos o reembolso [6]. A Troika acrescentou que tudo faria para que o reembolso dos empréstimos de 1824 e 1825 fosse igualmente efectuado (ver adiante). O acordo das três potências entrou em vigor em 1830 mas, dadas as dificuldades de execução, apenas foi posto em prática em 1833. O empréstimo de 60 milhões de francos foi concedido em 1833 e entregue em três tranches.
O destino das somas das duas primeiras tranches é particularmente esclarecedor. Dum total de 44,5 milhões de dracmas (o empréstimo foi emitido em francos franceses e entregue em dracmas; 1 franco valia cerca de 1,2 dracmas), apenas 9 milhões chegaram às caixas do Estado, ou seja 20 % do total emprestado. O banco Rothschild de França cobrou mais de 10 % de comissão (5 milhões), os compradores de títulos (entre os quais o banco Rothschild) receberam 7,6 milhões a título de pagamento antecipado dos juros para o período 1833-1835 (mais de 15 % do total emprestado), 12,5 milhões (um pouco menos de 30 % do empréstimo) foram entregues ao Estado otomano como indemnização pela independência; a França, o Reino Unido e a Rússia levantaram 2 milhões por serem credores da Grécia; mais de 15 % do montante, ou seja 7,4 milhões, foram entregues ao rei Otto para cobrir as remunerações e os custos de deslocação das suas instalações, dos dignitários bávaros que asseguravam a regência [7] e de 3500 mercenários recrutados na Baviera, além de 1 milhão destinado à compra de armas.
O primeiro empréstimo odioso de 1833 feito à Grécia pela Troika (França, Reino Unido e Rússia – as chamadas Grandes Potências) | |
Repartição dos montantes | |
O que se segue é um resumo da utilização dos fundos de empréstimo de 1833, garantido pelas grandes potências (tranches A e B, num total de 44,5 milhões de dracmas). | |
Honorários pagos ao banco Rothschild: | 5 milhões |
Juros calculados sobre o empréstimo de 1833 a 1835 (pagamento antecipado): | 7,6 milhões |
Indemnizações pagas ao Império Otomano: | 12,5 milhões |
Reembolso da dívida às grandes potências – Fr, RU, Rússia – (pagamento antecipado): | 2 milhões |
Despesas de deslocação para o rei Otto, seu pessoal e sua escolta: | 2,1 milhões |
Salários e outras despesas para os membros da regência de Otto: | 2 milhões |
Recrutamento e custos de deslocação para os mercenários bávaros: | 3,3 milhões |
Compra de material militar: | 1 milhao |
Subtotal: | 35,5 milhões |
Resto transferido para o Tesouro público grego: | 9 milhões |
Ou seja 20 % dos 44,5 milhões imputados à Grécia | |
Fonte: segundo Reinhart e Trebesch, 2015, The pitfalls of external dependence: Greece, 1829-2015, p. 22; Kofas, Jon, 1981, Financial Relations of Greece and the Great Powers 1832-1862, Boulder: East European Monographs, p. 25. |
As três potências assinaram a 7 de Maio de 1832 com o rei da Baviera, pai de Otto, futuro rei da Grécia, um acordo que obrigava o novo Estado «independente» a dar prioridade absoluta ao reembolso da dívida (ver o artigo XII da ilustração acima). Como prova, sem a menor ambiguidade, a reprodução de uma parte da convenção de 7 de Maio de 1832, este documento é assinado pelo representante da casa real britânica, Lord Palmerston, pelo representante da monarquia francesa, Talleyrant, pelo representante do czar de todas as Rússias e pelo representante do rei da Baviera, que age em nome da Grécia quando Otto e o seu séquito ainda não saíram de Munique! Otto só chega à Grécia em Janeiro de 1833. Graças a este documento, dispomos de uma prova que evidencia o carácter odioso e ilegal da dívida reclamada ao povo grego a partir de 1833.
A Troika exercia um controlo muito estrito sobre o orçamento de Estado e sobre a colecta dos rendimentos. Exigia regularmente que os impostos e as taxas fossem aumentados e que as despesas fossem comprimidas. Note-se que a 5ª Assembleia Nacional, que reuniu em Dezembro de 1831, aprovou uma «Constituição da Grécia» cujo artigo 246 indicava que o soberano não tem o direito de decidir sozinho em matéria de impostos, taxas, despesas públicas ou sobre a colecta dos rendimentos, sem respeitar as leis ou resoluções aprovadas por um órgão legislativo [8]. A monarquia e a Troika calcaram aos pés esta Constituição, que nunca reconheceram.
Em 1838 e em 1843, a monarquia suspendeu o pagamento da dívida, por não dispor dos meios de tesouraria necessários para cumprir o pagamento de juros extremamente elevados [9]. Aquando do incumprimento de 1843, com os juros vencidos a representarem 43 % dos rendimentos do Estado, a Troika interveio e exerceu uma pressão extrema sobre a monarquia, para que ela aplicasse um programa de austeridade radical, ditado pelos embaixadores das três potências (ver quadro acima).
Os sacrifícios impostos à população grega para reembolso da dívida foram de tal ordem, que por vezes ela rebelou-se. A revolta foi particularmente forte em 1843, contra novo aumento das taxas e pela aprovação de um regime constitucional. Note-se de passagem que o Reino Unido chegou ao ponto de ameaçar o rei Otto de fazer uma incursão militar se ele não decretasse um aumento dos impostos para cumprir as suas obrigações em relação à Troika. O Reino Unido e a França ocuparam militarmente o porto Pireu durante 10 anos, a partir de Maio de 1854, meio este muito eficaz para deitar a mão aos rendimentos da alfândega portuária.
O memorando imposto pela Troika em 1843
|
A partir de 1843 a Troika assumiu, conforme tinha prometido aos banqueiros, o reembolso da dívida da Grécia quando esta não conseguia reunir rendimentos suficientes para reembolsar a totalidade dos juros e do capital. O reembolso efectuado pela Troika termina em 1871 [12] e os credores deram-se por satisfeitos: receberam os juros e recuperaram o capital que tinham emprestado. Ficava saldado o empréstimo de 60 milhões de francos.
Mas a dívida em relação à Troika subsistia, pois o Reino Unido, a França e a Rússia tinham assumido uma parte dos pagamentos. Assim, a Grécia teve de continuar a destinar uma parte dos seus rendimentos ao reembolso das três potências da Troika. A Grécia saldou o reembolso à França e ao Reino Unido pelo empréstimo de 1833 nos anos 1930, ou seja um século mais tarde (quanto à Rússia, deixou de ser reembolsada após a Revolução de 1917).
Afinal que aconteceu com o reembolso dos empréstimos de 1824 e de 1825 ?
Recordemos que o reembolso tinha sido suspenso a partir de 1826 e que os credores tinham recusado em 1829 aceitar um acordo com o governo provisório, o qual viria a ser derrubado pela Troika e substituído pela monarquia. O empréstimo de 60 milhões de francos (que representava 124 % do PIB da Grécia em 1833) não substituiu os empréstimos de 1824-1825 (que representavam 120 % do PIB de 1833). Uma vez reembolsado o empréstimo de 60 milhões, a Troika teimou em que fossem satisfeitas as exigências dos credores de 1824-1825. Por isso em 1878 a Grécia, sob pressão das grandes potências, chegou a acordo com os banqueiros que detinham os títulos de 1824-1825. Os antigos títulos foram trocados por outros novos, com o valor de 1,2 milhões de libras esterlinas. Foi um excelente negócio para os detentores de títulos e uma nova injustiça para o povo grego. De facto, o montante efectivamente transferido para a Grécia em 1824-1825 tinha sido apenas de 1,3 milhões de libras. Ao trocar os velhos títulos pelos novos no valor de 1,2 milhões, os credores podiam dar-se por satisfeitos, tanto mais quanto uma parte deles tinha comprado os títulos antigos por meia tuta. Os banqueiros continuaram a especular constantemente sobre os títulos gregos, vendendo-os quando começavam a baixar e recomprando-os quando voltavam a subir.
É notório que a maior parte dos estudos e artigos que analisam superficialmente os problemas da dívida grega afirmam que as despesas públicas eram demasiado elevadas e que os Gregos não pagavam impostos ou pagavam muito pouco. Ora uma análise rigorosa da evolução do orçamento de Estado mostra que entre 1837 e 1877 o orçamento apresentava um excedente primário – excepto em dois casos –, ou seja, as receitas eram superiores às despesas, excluindo o reembolso da dívida. Num período de 41 anos (1837-1877), as receitas (provenientes essencialmente dos impostos) foram superiores às despesas durante 39 anos, se excluirmos o reembolso da dívida. O défice orçamental foi provocado pelo reembolso da dívida, que teve um peso insuportável [13]. É claro que não se pretende com isto dizer que a monarquia fez uma boa gestão do orçamento de Estado no interesse da população. A existência de um excedente orçamental é uma exigência típica dos credores, em todas as épocas. O excedente primário garante aos credores a existência duma margem que poderá ser utilizada para reembolsar a dívida. O peso do reembolso da dívida e a tutela exercida pelas grandes potências europeias constituem os factores determinantes da incapacidade da Grécia para realizar avanços económicos.
Conclusão desta parte
Os empréstimos de 1824-1825 deveriam ter sido considerados nulos, já que os termos do contrato eram leoninos e o comportamento dos banqueiros foi claramente desonesto.
O empréstimo de 1833 encaixa claramente na doutrina da dívida odiosa [14]. A dívida tinha sido contraída por um regime despótico contra os interesses do povo. Esse regime despótico era um instrumento ao serviço das grandes potências que tentavam cumprir os seus interesses geoestratégicos à custa do povo grego, ao mesmo tempo que procuravam satisfazer as exigências dos banqueiros internacionais.
A recusa dos credores e das grandes potências em anular a dívida, no todo ou em parte, gerou efeitos de longa duração; a Grécia encontrava-se num estado de sujeição e impedida de se desenvolver economicamente.
A Grécia nasceu com uma dívida odiosa que subjugou o seu povo.
Algumas chaves para compreender o contexto histórico do nascimento de um Estado grego independente no século XIX. Economia e sociedade.
|
Bibliografia para esta primeira parte:
Agradecimentos:
O autor agradece a releitura e as sugestões de: Tassos Anastassiadis, Thanos Contargyris, Olivier Delorme, Romaric Godin, Jean-Marie Harribey, Daphne Kioussis, Yvette Krolikowski, Christian Louedec, Damien Millet, Giorgos Mitralias, Antonis Ntavanellos, Nikos Pantelakis, Claude Quémar, Yannis Thanassekos, Dimitra Tsami, Eleni Tsekeri, Alekos Zannas.
O autor é inteiramente responsável pelos eventuais erros contidos neste trabalho.
[1] Ver as obras de Juglar, Marx, Kondratieff, Kindleberger, Mandel…
[2] Os independentistas venceram uma batalha decisiva em Ayacucho, no Peru, a 9/Dezembro/1824, mas o conflito não terminou. Note-se que só uma parte do montante de 20 milhões de libras foi efectivamente transferido para a América Latina.
[3] Efectivamente foi isto que aconteceu aos dois empréstimos de 1824 e de 1825. Os títulos foram vendidos à partida a 60 % do seu valor facial. Ver Carmen M. Reinhart e Christoph Trebesch: The pitfalls of external dependance: Greece, 1829-2015, p. 24. O facto de vender os títulos abaixo do seu valor facial/nominal aquando da emissão, logo à partida, a fim de atrair os compradores, continua a ser prática corrente nos nossos dias, mesmo quando o desconto concedido é nitidamente inferior ao que era praticado no século XIX.
[4] Ernest Mandel propôs a seguinte datação para as ondas longas de finais do século XVIII e até ao início do século XX: 1793-1825 (período de crescimento forte, que termina na grande crise que estala em 1825), seguido de um período de crescimento lento de 1826 a 1847 (com uma forte crise em 1846-47), período de crescimento forte de 1848 a 1873 com crise forte em 1873; crescimento lento de 1874 a 1893, com crise bancária forte em 1890-1893; crescimento forte de 1894 a 1913… Ver E. Mandel, Le Troisième âge du Capitalisme, 1972. As fases de expansão forte, tal como as fases de expansão lenta, subdividem-se em ciclos mais curtos que variam de 7 a 10 anos e terminam em crises.
[5] Sobre as relações complexas e tensas entre o Reino Unido e a Rússia, ver a caixa «Algumas chaves para compreender o contexto histórico do nascimento de um Estado grego independente no século XIX». Ver também Olivier Delorme, La Grèce et les Balkans, du Ve siècle à nos jours, Gallimard, Paris, 2013.
[6] É grosso modo o que sucedeu em 2010-2012, quando 13 países da zona euro prestaram a sua garantia ao crédito concedido pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Em caso de incumprimento de pagamento da Grécia, esses países comprometeram-se a reembolsar os títulos na posse dos banqueiros privados. Ver Comissão para a Verdade sobre a Dívida Grega, Rapport préliminaire de la Commission pour la vérité sur la dette publique grecque, Atenas, 2015, caps. 3 e 4.
[7] Enquanto Otto não chegou aos 20 anos de idade, ou seja 1835, foi instalado um Conselho de Regência composto por dois aristocratas e um general bávaros. À chegada, Otto instalou-se em Náuplia, uma cidade com 6000 habitantes, antes de decidir, de acordo com o Conselho de Regência, que Atenas, nessa época com 5000 habitantes, se tornaria a capital. Ver https://fr.wikipedia.org/wiki/Othon_Ier_%28roi_de_Gr%C3%A8ce%29
[8] Ver Nikos Beloyannis, Le capital étranger en Grèce, http://iskra.gr/index.php?option=com_content&view=article&id=1010 :-1833-&catid=55:an-oikonomia&Itemid=283
[9] A 31/Dezembro/1843, a Grécia já tinha satisfeito o pagamento de 33 milhões de dracmas pelos juros e amortização do capital. Mas resistia a pagar às três potências da Troika garantes do empréstimo de 1833 o montante de 66 milhões de dracmas, ou seja bastante mais do que a Grécia tinha recebido em 1833. informações fornecidas por Dimitra Tsami.
[10] É a este episódio que a praça em frente do Parlamento actual deve o seu nome: Praça Syntagma = praça da constituição.
[11] Segundo Takis Katsimardos, «L’ancien Mémorandum dans la Grèce de 1843», publicado a 18/09/2010, no jornal financeiro Imerissia, que já não existe. Em linha
[12] Ver Carmen M. Reinhart e Christoph Trebesch: The pitfalls of external dependance: Greece, 1829-2015, p. 24.
[13] Segundo Reinhart e Trebesch, 2015, The pitfalls of external dependance: Greece, 1829-2015, p. 23, Apêndice B.
[14] Ao longo dos séculos XIX e XX, por diversas vezes, foram anuladas dívidas consideradas odiosas. O jurista Alexander Sack, que é uma autoridade no que diz respeito à doutrina da dívida odiosa, resumiu uma série de preceitos numa edição publicada em Paris em 1927. Ver: Sack, Alexander Nahum, 1927, Les Effets des Transformations des États sur leurs Dettes Publiques et Autres Obligations financières, Recueil Sirey, Paris. http://www.worldcat.org/title/effets-des-transformations-des-etats-sur-leurs-dettes-publiques-et-autres-obligations-financieres-traite-juridique-et-financier/oclc/18085050/editions?referer=di&editionsView=true
[15] Todos os trechos citados foram retirados do capítulo 1 do livro de Constantin Tsoucalas, La Grèce de l’indépendance aux colonels, Editions F. Maspéro, Paris, 1970.
[16] ESTRATOCRACIA (stratos + kratos). Termo invulgar. Governo militar, ou seja, cujos chefes são guerreiros profissionais.
[17] Ver a bibliografia de Ioannis Kapodistrias, https://fr.wikipedia.org/wiki/Io%C3%A1nnis_Kapod%C3%ADstrias
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.