Honduras: a hora da verdade para a administração de Obama

15 de Julho de 2009 por James D. Cockcroft




O golpe militar atualmente em processo em Honduras é pra nós um duro revés. Este golpe tem feito várias e vãs tentativas de parecer brando e constitucionalista. Detrás do golpe há várias forças sociais, econômicas e políticas, das quais a mais importante é o governo do presidente Barack Obama. Nenhuma mudança importante pode acontecer em Honduras sem a aprovação de Washington. A oligarquia hondurenha e as corporações trasnacionais (bananeiras, farmacêuticas) estão defendendo seus interesses, como sempre, com um golpe militar.

Funcionários do governo estadunidense tomaram conhecimento, antes do ataque, dos planos dos golpistas, dos quais participaram e continuam participando sejam quais forem as diferenças típicas que sempre acontecem em situações tão difíceis, neste caso devido à força dos movimentos sociais que promovem a democracia e uma assembléia constituinte.

Por sua vez, vários indivíduos e grupos da ultradireita dos Estados Unidos continuam promovendo golpes militares e incidentes, como a recente detenção de um casal de idosos estadunidenses acusados de passar segredos do governo a Cuba no momento em que a Corte Suprema se recusava a rever o caso dos Cinco Heróis cubanos injustamente encarcerados por conspiração com o objetivo de cometer espionagem.

A ultradireita estadunidense vê em Obama um socialista na sua política doméstica e um traidor em sua política externa, por exemplo, no que tange à Cuba, Venezuela, Equador, Paraguai, El Salvador e, logicamente, Honduras. Não aceitam que se haja permitido a Honduras entrar para a Alternativa Bolivariana para os povos da América latina e do Caribe (Alba). Por isso, vê-se pessoas como Negroponte, Reich e outros ex-funcionários governamentais metidos no golpe hondureño e na defesa deste. Esta ofensiva ultradireitista nos Estados Unidos é paralela àquela que tem lugar no resto da América Central e em outras partes do que José Martí chamaria de Nossa América, onde podem ser ouvidas muitas vozes e parte significativa dos meios de comunicação defendendo o golpe “gorilista” em Honduras e também promovendo processos similares em seus próprios países.

As forças militares estadunidenses estão presentes para coordenar ou oferecer sua ajuda, como aconteceu em abril de 2002 na Venezuela e agora em Honduras desde sua base em Soto Cano, antes usada na guerra suja contra os sandinistas nicaraguenses na década de 1980. O líder das forças armadas de Honduras, general Romeo Vásques, e o comandante da aviação de Honduras, general Luis Javier Prince Suazo, são graduados da Escola das Américas, fundada pelos Estados Unidos para treinar milhares de soldados latinoamericanos, alguns dos quais se fizeram ditadores durante as guerras sujas do século passado e que até agora continuam em países como Colômbia, Peru e México, e que começam a reaparecer através de paramilitares na Venezuela e em outros países.

A ambiguidade e as contradições das declarações do presidente Obama e de sua secretária de Estado, Hillary Clinton, quanto a Honduras e seu “golpe militar ilegal” (pode um golpe militar ser legal?) refletem a complexidade da política estadunidense atual. Mas isso não é de surpreender. Já que vimos o abandono de promessas feitas durante a campanha eleitoral de 2008: mantêm-se a tortura de presos e capturados, a suspensão do habeas corpus e a possibilidade de deter sem processo judicial mesmo cidadãos estadunidenses. Junte-se a isso a falta de transparência, as guerras no Irak, Afganistán e Pakistán, etc.

O cadáver conhecido como Organização de Estados Americanos (OEA) deu um sinal de uma possível nova vida com seu voto contre o golpe em Honduras, mas atrás disso há a intenção de Washington em ocultar seu própio papel no golpe e usar a OEA como arma numa solução negociada ou talvez armada, estilo Haiti, em 2004, ou Santo Domingo, em 1965. A possibilidade de outro cenário como aqueles ou algo ainda mais perigoso existe agora porque a força militar estadunidense é maior que qualquer resistência civil-militar insurrecionista ou guerriheira hondurenha que se possa imaginar. Até agora, pelo menos.

Enquanto isso, os gorilas de Honduras consolidam no terreno seu poder e os movimentos sociais hondurenhos resistem pacífica e heroicamente. No resto de Nossa América, as forças da direita, apoiadas econômica e militarmente pela administração de Obama, estão tratando de derrubar a Alba e seus governos, sobretudo a Venezuela.

É um dever moral e uma necessidade política que os outros governos latinoamericanos e do mundo, a comepar pelos mais progressistas, removam os golpistas do poder, levem-nos à Justiça e restituam o presidente democraticamenet eleito, Manuel Zelaya. Para o governo de Barack Obama, chegou a hora da verdade.

* Tradução por Emerson da Silva.


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