Série : O contexto internacional das indignações mundiais (3/5)
25 de Janeiro de 2012 por Eric Toussaint
Na Tunísia e no Egipto, países não exportadores de matérias-primas (a não ser em grau marginal), as condições de vida das populações degradaram-se nos últimos anos, o que originou protestos sociais severamente reprimidos. Isto provocou, a começar pela Tunísia, uma reacção de massas que depressa adquiriu uma dimensão política. O povo desceu à rua e às praças públicas para enfrentar a repressão (o que se saldou em 300 mortes) e exigir a destituição do ditador Ben Ali. Em 14 de Janeiro de 2011, o ditador teve de deixar o poder. A partir de 25 de Janeiro de 2011, o movimentou alastrou-se ao Egipto, cuja população foi submetida por décadas a contra-reformas neoliberais ditadas pelo Banco Mundial e o FMI, combinadas com um regime ditatorial aliado, tal como na Tunísia, das potências ocidentais (e totalmente comprometido numa aliança com as autoridades israelitas). Em 11 de Fevereiro de 2011, menos de um mês a pós a queda de Ben Ali, Mubarak é obrigado a abandonar o poder. Outros países da região inflamam; a repressão propaga-se. Estas lutas ainda estão em curso; o processo não terminou em toda essa região.
Na Tunísia e no Egipto as classes dominantes tentam, com a ajuda das grandes potências ocidentais, controlar a situação, para que o movimento não conduza revolução social.
O clima de rebelião atravessa o Mediterrâneo, do Norte de África para o Sul da Europa. Em Portugal, a 12 de março de 2011, o movimento dos precários manifesta-se levando à rua centenas de milhares de pessoas; mas este movimento não durou. A 15 de maio os protestos atingem a Espanha e prolongam-se até ao 23 de julho. Por fim, o movimento atinge o nível mundial em 15 de outubro de 2011. Nesse ínterim o movimento contagia a Grécia a partir do 24 de maio de 2011. A praça Puerta del Sol em Madrid, a praça Catalunya em Barcelona, a praça Syntagma em Atenas e centenas de outras praças na Espanha e Grécia vibram ao mesmo som em junho de 2011. Em julho-agosto os protestos sociais abalam igualmente Israel; a alameda Rothschild, em Telavive, é ocupada, mas sem pôr o governo em perigo (e sem tentar ligar-se à causa palestina). Em setembro, o movimento consegue atravessar o Atlântico Norte. Chega aos EUA pela costa leste, começando por Nova Iorque e Wall Street, para se estender depois a grande parte do território norte-americano até à costa oeste, onde Oakland vive a experiência mais radical. Em 15 de outubro, data definida pelo movimento dos Indignados em Espanha, mais de um milhão de pessoas protestam em todo o Mundo, do Japão à costa oeste dos EUA, essencialmente nos países mais industrializados. A 15 de outubro os protestos mais impressionantes ocorrem em Madrid, Barcelona, Valência, Atenas e Roma. Em Espanha, de onde a iniciativa partiu, cerca de 500 000 manifestantes desfilaram nas ruas de cerca de 80 cidades, dos quais 200 000 ou mais em Madrid. Os dois principais centros financeiros do planeta, Nova Iorque e Londres, também foram palco de protestos inseridos nessa vasta acção. Mais de 80 países e cerca de um milhar de cidades viram centenas de milhares de jovens e adultos desfilar em protesto da gestão da crise económica internacional por parte dos governos que vêm em auxílio das instituições privadas responsáveis pela crise e que aproveitam para reforçar as políticas neoliberais: despedimentos em massa nos serviços públicos, cortes vastos nos serviços sociais, privatizações em massa, ataque dos mecanismos de solidariedade colectiva (pensões de reforma, subsídio de desemprego, convenções colectivas entre assalariados e patronado, etc.). Por todo o lado o reembolso da dívida pública serve de pretexto para reforçar as medidas de austeridade. Por todo o lado os manifestantes denunciam a banca.
Nenhuma organização dirige este movimento que não procura dotar-se de qualquerestrutura de coordenação internacional, no entato, é obvio que a comunicação funciona bem.
Traduccão: Rui Viana Pereira; Revisão: Noémie Josse Dos Santos
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.
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