Portugal rejeitou, nas ruas, a 15 de Setembro de 2012, as políticas da Troika Troika A Troika é uma expressão de apodo popular que designa a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. (Comissão Europeia, Banco Central Banco central Estabelecimento que, num Estado, tem a seu cargo em geral a emissão de papel-moeda e o controlo do volume de dinheiro e de crédito. Em Portugal, como em vários outros países da zona euro, é o banco central que assume esse papel, sob controlo do Banco Central Europeu (BCE). Europeu e FMI) e as políticas neo-liberais do governo de coligação PSD/CDS, desafiando a esquerda. Num país conhecido pelos seus “brandos costumes” ou falta de participação cívica e política, mais de um milhão de pessoas (10% do eleitorado) manifestou-se, por todo o país, algo só visto no 1º de Maio de 1974, uns dias após a Revolução dos Cravos que terminou com 48 anos de regime autoritário.
No sábado, em Portugal, deu-se uma “revolução política”, uma explosão de cidadania. De repente, a “política”, na sua forma democrática mais nobre, a participação cidadã, invadiu as ruas do país num protesto apartidário e assindical, organizado pela sociedade civil. Sintomático! “O povo unido jamais será vencido”, a palavra de ordem da Revolução de Abril de 1974, foi o grito de indignação mais proclamado pelos milhares de portugueses que caminharam contra a Troika e pelas suas vidas.
Os portugueses aderiram em massa a uma proposta transversal. Exerceram a democracia participativa. Perante instituições, partidos e representações, mostraram ter apreço por outra forma de fazer política, em sintonia com um paradigma mais participativo e autónomo. O mote foi anti-capitalista: “queremos as nossas vidas”. Os portugueses querem viver com dignidade e ser donos do seu dia-a-dia. Rejeitam ser objectos ou mercadoria nas mãos de especuladores. Estão contra a política dos baixos salários e pensões. Estão contra a exploração, a depressão e a recessão. Querem crescer mais! Querem de volta o estado social conquistado, a pulso, pelos antepassados. Os portugueses não estão à venda. Atingiram a maioridade!
Os portugueses queixam-se que a fome é uma ameaça. “Gatunos”! “Que se lixe a Troika!”. Sentem-se roubados e não querem mais políticas de austeridade. A propósito da dívida pública Dívida pública Conjunto dos empréstimos contraídos pelo Estado, autarquias e empresas públicas e organizações de segurança social. , gritam: “esta dívida não é nossa!”, “não pagamos, não pagamos”! Os portugueses não admitem que o governo tire aos trabalhadores para dar ao capital, como pode acontecer se a subida de 7% da taxa social única (TSU) se vier a concretizar no próximo orçamento de Estado. E, para cúmulo, os patrões também não! Defendem os trabalhadores neste particular. A medida é rejeitada por todos, menos pelo governo que confessa, para estarrecimento do país, que subirá a TSU mesmo sem ter ainda tocado nas parcerias público privadas, sem ter cortado na despesa das empresas públicas e estando prontinho para desbaratar mais património de todos nós. O descaramento ultrapassou todos os limites.
Perante este (des)governo, nem as cedências Keynesianas nos valem. Eles são os puristas do mercado: os neo-liberais confessos, anti-regulação, evangélicos que creem que a fé tudo regula. É ideológico! Vitor Gaspar, o Ministro das Finanças, admitiu-o aos portugueses. A propósito da subida da TSU, assumiu que as transferências do trabalho para o capital serão em regime de roda-livre. O Governo tem fé nos empresários. Diz Gaspar que cabe à cidadania fiscalizar.
“Basta!”, gritaram de indignação os portugueses. É urgente uma solução à esquerda que dê formas, que podem ser caleidoscópicas, às vontades de um povo que não quer perder a sua soberania e dignidade: “o FMI fora daqui!”. Não queremos pagar dívidas ilegítimas e juros usurários (a usura não era “pecado”!?). Queremos libertar dinheiro para satisfazer as necessidade básicas dos portugueses, para trazer de volta o estado social, o serviço nacional de saúde e a escola pública, para estimular a iniciativa dos cidadãos a nível social e económico, de forma regulada e organizada. Precisamos de dar largas à criatividade, de inventar e construir fórmulas dignas, à escala humana, num clima de igualdade e de liberdade. Basta de soluções autistas e hegemónicas. Precisamos de nos unir, de nos ouvir, de nos sentir, de dialogar das mais diversas formas e de encontrar soluções que nos restituam as nossas vidas. Precisamos de ânimo e de seguir em frente.
Os portugueses estão aí, a fazer o seu trabalho. E a Esquerda? Está à altura do novo paradigma e da revolução em curso!?
4 de Junho de 2013, por Maria da Liberdade
4 de Maio de 2013, por Maria da Liberdade
5 de Março de 2013, por Maria da Liberdade