ONU, Banco Mundial e EUA devem ajustar sanções e políticas econômicas
15 de Novembro de 2021 por Human Rights Watch
Os países doadores, as Nações Unidas e as instituições financeiras internacionais deveriam urgentemente enfrentar o colapso da economia do Afeganistão e de seu sistema bancário para evitar a fome generalizada.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU emitiu vários alertas sobre o agravamento da insegurança alimentar e o risco de mortes em grande escala por fome em todo o Afeganistão nos próximos meses. A imprensa noticiou que famílias sem dinheiro e alimentos estão vendendo seus bens e tentando fugir do país por terra. Afegãos em situação de pobreza que enfrentam desnutrição descreveram tentativas desesperadas de comprar ou procurar alimentos e relataram a morte de pessoas que não conseguiram sair.
“A economia e os serviços de assistência social do Afeganistão estão em colapso. Afegãos por todo o país já sofrem de desnutrição aguda”, disse John Sifton, diretor de advocacy da Human Rights Watch na Ásia. “A ajuda humanitária é crucial, mas dada a gravidade da crise, os governos, a ONU e as instituições financeiras internacionais precisam urgentemente ajustar as restrições e sanções existentes que afetam a economia do país e o setor bancário.”
Após a tomada do Afeganistão pelo Talibã em agosto de 2021, a perda de renda, a escalada dos preços, a crise de liquidez e a escassez de dinheiro têm privado grande parte da população do acesso a alimentos, água, abrigo e assistência médica, disse a Human Rights Watch.
Uma mulher que mora na região central do Afeganistão disse à Human Rights Watch que poucos em sua comunidade tinham dinheiro ou comida: “Os professores não foram pagos nos últimos três meses [...] As pessoas estão realmente desesperadas. Quando você não tem comida no prato, não consegue pensar em mais nada. Ninguém tem dinheiro para comprar combustível, para aquecer a casa quando neva, ou para comprar comida”.
A crise financeira afetou especialmente mulheres e meninas, que enfrentam obstáculos desproporcionais para obter alimentos, cuidados de saúde e recursos financeiros. O Talibã impôs restrições que impedem mulheres de exercer a maioria dos trabalhos remunerados, afetando fortemente famílias nas quais as mulheres eram as principais provedoras. Mesmo em setores nos quais têm permissão para trabalhar, como nas áreas de educação e saúde, é possível que as mulheres não consigam cumprir os requisitos do Talibã de serem acompanhadas por um familiar homem na ida e volta do trabalho. A imprensa tem noticiado cada vez mais casos de famílias que, para obter comida ou pagar dívidas, vendem seus filhos, quase sempre meninas, em teoria para o casamento.
A terrível situação econômica do Afeganistão foi agravada por decisões de governos e instituições bancárias internacionais de não negociar diretamente com o Banco Central Banco central Estabelecimento que, num Estado, tem a seu cargo em geral a emissão de papel-moeda e o controlo do volume de dinheiro e de crédito. Em Portugal, como em vários outros países da zona euro, é o banco central que assume esse papel, sob controlo do Banco Central Europeu (BCE). do Afeganistão por causa de sanções da ONU e dos EUA e de outros países. Isso aumentou os problemas de liquidez para todos os bancos e a escassez de moeda em dólares americanos e na moeda do Afeganistão, o afegane.
Diversos funcionários de bancos e de agências humanitárias disseram à Human Rights Watch que a maioria dos bancos afegãos não pode cobrir saques feitos por entidades privadas e organizações de ajuda humanitária. Mesmo quando os fundos são transmitidos eletronicamente para os bancos, a falta de papel-moeda significa que o dinheiro não está fisicamente disponível e, portanto, não pode fluir para a economia do país.
A política de sanções dos EUA contra o Talibã parece estar em desacordo com as novas políticas do Departamento do Tesouro dos EUA, promulgadas em 18 de outubro, disse a Human Rights Watch. As novas políticas afirmam que o departamento “deve procurar adequar as sanções a fim de mitigar impactos econômicos e políticos não intencionais”, ao mesmo tempo em que adota um “modelo de política estruturada que vincula as sanções a um objetivo político claro”. As políticas atuais dos EUA não estão mitigando impactos indesejados, nem estão manifestando um objetivo político claro.
Para enfrentar a crise humanitária no Afeganistão, a Human Rights Watch recomenda que:
“A generosidade dos doadores e as promessas humanitárias colidem com a impossibilidade das agências da ONU, grupos humanitários e a diáspora afegã, enviarem recursos para um sistema bancário que não está funcionando, e dos titulares de contas no Afeganistão de sacarem dinheiro que não está lá”, disse Sifton. “As mortes e o sofrimento generalizados pela fome são evitáveis se os governos agirem urgentemente para enfrentar a crise econômica no Afeganistão.”
Fonte : HUMAN RIGHTS WATCH