Introdução ao 7º atelier regional do CADTM Ásia do Sul, realizado em Colombo (Sri Lanka) de 6 a 8 de abril de 2018
9 de Abril de 2018 por Eric Toussaint
(CC - Flickr - Lily Rhoads)
O 7º atelier regional do CADTM Ásia do Sul teve início em Colombo (Sri Lanka) a 6 de abril de 2018, com a presença de delegados do Sri Lanka, da Índia, do Paquistão, do Bangladesh, do Nepal, do Japão, da Bélgica e da França. No total reuniu mais de quarenta participantes, na sua maioria provenientes de movimentos sociais (movimentos camponeses, feministas, sindicalistas, etc.), num atelier que dura 3 dias. Foram abordados sucessivamente quatro assuntos:
1. A actividade do CADTM ao nível internacional e suas principais temáticas.
2. A política de endividamento externo do Sri Lanka.
3. Os investimentos e os empréstimos chineses na Ásia do Sul.
4. As dívidas das grandes empresas privadas à escala mundial em geral e na Índia em particular. Segue-se a introdução geral apresentada por Éric Toussaint, porta-voz do CADTM internacional.
Trata-se de combater um sistema capitalista predador da Natureza.
É preciso combater o sistema capitalista que, dois séculos após a chamada Revolução Industrial, gerou uma acumulação na atmosfera que provoca o aquecimento climático.
É um sistema que apenas vê na Natureza uma matéria a explorar e a mercantilizar, para extrair o máximo de lucro Lucro Resultado contabilístico líquido resultante da actividade duma sociedade. O lucro líquido representa o lucro após impostos. O lucro redistribuído é a parte do lucro que é distribuída pelos accionistas (dividendos). .
É preciso combater o sistema capitalista que, dois séculos após a chamada Revolução Industrial, gerou uma acumulação na atmosfera que provoca o aquecimento climático
Um sistema capitalista que confina um grande número de países e povos à produção para exportação de matérias-primas ao mais baixo preço possível.
Um sistema que força os países e os povos a cultivar produtos agrícolas que não consomem e a consumir mercadorias que não produzem.
Um sistema que desenvolve centrais nucleares por cujo encerramento lutamos.
Um sistema capitalista que mantém e reforça a exploração e opressão das mulheres.
Um sistema que faz perdurar o sistema de castas na Ásia do Sul e reforça as políticas racistas dos governos.
Um sistema capitalista que caminha de mão dada com o sistema da dívida.
O sistema da dívida é muito mais antigo que o sistema capitalista (ver: «Romper o círculo vicioso das dívidas privadas ilegítimas», parte 1), mas manteve-se e reforçou-se de forma sofisticada com o desenvolvimento do capitalismo (ver: «Romper o círculo vicioso das dívidas privadas ilegítimas», parte 2).
O endividamento privado foi utilizado durante milénios como mecanismo de espoliação das terras dos camponeses, dos meios de produção dos artesãos. A redução à escravidão por meio da dívida atormentou o mundo antigo durante séculos.
O sistema das dívidas privadas ilegítimas passa geralmente pela imposição de condições de empréstimo que tornam o reembolso impossível. Isto leva à espoliação (expropriação do alojamento, da terra, dos instrumentos de trabalho) ou à obrigação de consagrar muitos anos, por vezes décadas, ao pagamento da dívida.
No passado muitas revoltas tiveram por objectivo a libertação das dívidas ilegítimas: na Grécia Antiga, ou no Norte da Europa na Idade Média.
Estas lutas contra as dívidas ilegítimas voltam hoje à ordem do dia:
luta dos camponeses pela anulação das dívidas na Índia;
luta das mulheres contra o microcrédito em Marrocos, no Bangladexe e no Sri Lanka;
luta dos estudantes contra o fardo das dívidas estudantis nos EUA, no Chile, no Canadá (ver, em francês) no Japão e no Reino Unido;
luta das famílias vítimas dos créditos
Créditos
Montante de dinheiro que uma pessoa (o credor) tem direito de exigir a outra pessoa (o devedor).
hipotecários abusivos e dos despejos em Espanha, nos EUA, na Grécia (ver em francês, ou em inglês), na Irlanda.
As dívidas públicas ilegítimas
O sistema das dívidas ilegítimas também é utilizado pelo sistema capitalista para submeter a política dos poderes públicos aos desejos do Grande Capital. Embora a dívida pública Dívida pública Conjunto dos empréstimos contraídos pelo Estado, autarquias e empresas públicas e organizações de segurança social. pudesse servir para financiar um vasto programa de transição ecológica… ela serve para impor políticas anti-sociais, extractivistas, produtivistas, incentivadoras da competição entre povos.
O endividamento público não é uma coisa má em si mesma. Os poderes públicos podem recorrer ao empréstimo para financiar um vasto programa de transição ecológica:
para financiar o encerramento completo das centrais nucleares;
para substituir as energias fósseis por energias renováveis, respeitadoras do ambiente;
para financiar uma reforma agrária;
para reduzir radicalmente o transporte rodoviário e aéreo, em benefício dos transportes colectivos em ferrovias.
Os empréstimos públicos podem portanto ser legítimos, se forem feitos ao serviço de projectos legítimos e se quem empresta o fizer de maneira igualmente legítima
O CADTM não hesita em dizer que as grandes empresas e as famílias mais ricas deveriam contribuir obrigatoriamente para o empréstimo sem daí tirar vantagem, ou seja, à taxa zero. A generalidade dos agregados familiares poderia contribuir de forma voluntária, com uma taxa de juro Juro Quantia paga em retribuição de um investimento ou um empréstimo. O juro é calculado em função do montante do capital investido ou emprestado, da duração da operação e de uma taxa acordada. real nula, ou seja, sem compensação da inflação.
Os empréstimos públicos podem ser legítimos, se forem feitos ao serviço de projectos legítimos e se quem empresta o fizer de maneira igualmente legítima.
Simultaneamente, uma grande parte das famílias das classes populares poderiam aceitar confiar voluntariamente as suas poupanças aos poderes públicos, a fim de financiar os projectos legítimos acima mencionados. Este financiamento condicionado à aceitação voluntária pelas classes populares seria remunerado a uma taxa de juro real positiva, por exemplo 4 %. isto significa que se a inflação anual fosse de 3 %, os poderes públicos assegurariam o pagamento de um juro nominal de 7 %, a fim de garantir uma taxa real de 4 %.
Este mecanismo seria altamente legítimo, pois financiaria projectos úteis à sociedade e permitiria reduzir a riqueza dos mais ricos e aumentar o rendimento das camadas populares.
Passa-se precisamente o contrário: os Estados e as colectividades locais pedem empréstimos quase sempre para financiar políticas ilegítimas:
financiar despesas de armamento;
financiar elefantes brancos;
financiar centrais nucleares;
financiar PPP (parcerias público-privadas);
financiar o reembolso de antigas dívidas ilegítimas;
financiar resgates bancários.
Por conseguinte, a dívida pública serve para financiar despesas ilegítimas. A maneira de financiar o reembolso da dívida é igualmente ilegítima. As grandes empresas e as famílias ricas pagam poucos impostos ou nada pagam. São as camadas inferiores da população quem tem de apertar o cinto para reembolsar a dívida. Os bancos privados emprestam aos Estados a taxas de juro vantajosas para eles (os bancos), ao passo que eles próprios (os bancos) obtêm crédito no Banco Central Banco central Estabelecimento que, num Estado, tem a seu cargo em geral a emissão de papel-moeda e o controlo do volume de dinheiro e de crédito. Em Portugal, como em vários outros países da zona euro, é o banco central que assume esse papel, sob controlo do Banco Central Europeu (BCE). à taxa zero, como acontece na zona euro Zona euro Zona composta por 18 países que utilizam o euro como moeda: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia (a partir da 1-01-2014), Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Portugal, Eslováquia e Eslovénia. Os 10 países membros da União Europeia que não participam na zona euro são: Bulgária, Croácia, Dinamarca, Hungria, Lituânia, Polónia, República Checa, Roménia, Reino Unido e Suécia. e no Japão.
A conclusão é simples: é preciso acabar com o sistema de dívida ilegítima privada e pública.
O CADTM compromete-se com entusiasmo e com todas as suas forças, ao nível internacional e ao nível local, junto dos movimentos sociais e dos cidadãos dispostos a lutar pelo repúdio das dívidas ilegítimas, sejam elas públicas ou privadas.
Em certos casos, se os poderes públicos quiserem empenhar-se neste combate, o CADTM está disponível para prestar ajuda, nomeadamente na realização de auditorias com participação cívica. Foi o que fizemos no Equador em 2007-2008, no Paraguai em 2008 e na Grécia em 2015.
ATELIER CADTM ASIA 2018 : INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS, DÍVIDA E MICROCRÉDITO, COLOMBO, 6-8 ABRIL 2018
09:00-09:10 – Chegadas
09:10-09:40 – Acolhimento e introduções
Sandun Thudugala (Law & Society Trust)
Sessão 1 – Instituições Financeiras Internacionais e Dívida
Moderador: Linus Jayatilake (United Federation of Labour)
09:40-10:00 – Exposição de abertura: Lutamos contra a dívida pública ilegítima e contra a dívida privada
Eric Toussaint (porta-voz do CADTM)
10:00-10:30 – Intervalo
10:30-13:00
Japão: Dívida Nuclear
Tsutomo Teramoto (Osaka Education and Amalgamated Workers Union)
Sri Lanka: Crise da Dívida ou Armadilha da Dívida?
B. Skanthakumar (Social Scientists’ Association)
13:00-14:00 – Almoço
Sessão 2: Investimentos e Empréstimos Chineses 14:00-16:00
Moderador: Vidya Dinker (presidente da Indian Social Action Forum)
Introdução Geral
Au Loong Yu (Borderless – Hong Kong, China)
Sri Lanka: Whose Pearl ?
B. Skanthakumar (Social Scientists’ Association)
Pakistan: O Corredor Económico
Abdul Khaliq (CADTM Pakistan)
16:00-16:30 – Intervalo
Sessão 3: A Dívida das Empresas e Seus Impactes Socioeconómicos 16:30-18:00
Moderador: Rabbiya Bajwa (Advogado, Supremo Tribunal do Paquistão)
Índia
Sushovan Dhar (CADTM Índia)
Perspectiva Global
Eric Toussaint (CADTM)
18:00 – Encerramento do 1º dia
Sessão 4: Microcrédito, Mulheres e Dívidas das Famílias 09:00-11:00
Moderador: Nalini Ratnarajah (South Asia Alliance for Poverty Eradication, SAAPE)
Bangladesh
Monower Mostafa (Development Synergy Institute)
Japan: A Dívida dos Estudantes
Tsutomo Teramoto (Osaka Education and Amalgamated Workers Union)
Sri Lanka
Niyanthini Kadirgamar (Collective for Economic Democratisation)
11:00-11:30 – Intervalo
Sessão 5: Dívidas camponesas, Suicídios dos Camponeses e Crise Agrária 11:30-13:30
Moderador: Vimukthi de Silva (Movement for National Land and Agricultural Reform)
Índia
Sushovan Dhar (CADTM Índia)
Nepal
Balram Banskota (All-Nepal Peasants Federation Association)
Pakistan
Zafar Lund (advogado, Supremo Tribunal do Punjab)
Sri Lanka
M. K. Jayatissa (Progressive Farmers’ Association)
13:30-14:30 – Almoço
14:30-15:30 – Dívidas Camponesas: perguntas e respostas
15:30-16:00 – Intervalo
Sessão 6: Multilaterais: Novos e Velhos - 16:00-18:00
Moderador: Fatima Khilji (advogado)
Casos concretos do Asian Development Bank: Nepal: Barragens hidroeléctricas
Ratan Bhandari (Jal Sarkar, Water Governance)
Sri Lanka: Northern Province Sustainable Fisheries Development Project
S. Vishvalingam (Sri Lanka Nature Group)
Asian Infrastructure Investment Bank
Hasan Mehedi (Coastal Livelihood e Environmental Action Network)
New Development Bank
Eric Toussaint (CADTM)
18:00 – Encerramento do 2º dia
Sessão 7: Auditorias da Dívida: Campanhas contra as Dívidas Ilegítimas
09:00-11:00
Moderador: Marshal Fernando (Ecumenical Institute for Study and Dialogue)
Introdução: Nathan Legrand (secretariado do CADTM)
Case Studies: Equador e Grécia: Eric Toussaint (CADTM)
11:00-11:30 – Intervalo
11:30-13:00
Moderadores: Sushovan Dhar & B. Skanthakumar
Estratégia e Planeamento: Perspectivas para Auditorias da Dívida na Ásia do Sul
Encerramento do atelier
13:00-14:00 – Almoço
Tradução: Rui Viana Pereira
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.
8 de Setembro, por Eric Toussaint , Roberto González Amador
1 de Setembro, por Eric Toussaint , Jorge Muracciole
À la Cumbre de los pueblos, VUB, Bruxelles, juillet 2023 :
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11 de Agosto, por Eric Toussaint , Ashley Smith
6 de Julho, por Eric Toussaint , Alberto Acosta , Pierre Salama , Joan Martínez Alier , Wilma Salgado , Rosa Sueiro , Aleida Azamar
22 de Junho, por Eric Toussaint
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