Parte 9 da série: Centenário da Revolução russa e do repúdio das dívidas
25 de Setembro de 2017 por Eric Toussaint
Este texto, que era uma verdadeira provocação da parte das potências ocidentais, levou a delegação soviética a contactar poucas horas depois a delegação alemã, que era mantida um pouco à margem da conferência pelas autoridades de Paris e Londres. Estas capitais pretendiam convencer os russos soviéticos a aceitar as condições mencionadas anteriormente ou, no mínimo, uma parte delas, para de seguida negociar com os alemães uma situação favorável. A questão russa era claramente prioritária.
Joffé, um dos responsáveis da delegação soviética, telefonou aos alemães à uma da manhã do domingo de Páscoa, 16 de Abril de 1922, para lhes propor um encontro imediato, a fim de tentar alcançar um acordo bilateral. O biógrafo de Walther Rathenau, ministro alemão da Economia, conta que os membros da delegação alemã se reuniram em pijama no salão do hotel de Rathenau, para decidirem se aceitavam o convite soviético. Aceitaram-no e catorze horas mais tarde, no domingo de 16 de Abril de 1922, às 17 horas, o Tratado de Rapallo foi assinado entre a Alemanha e a Rússia soviética. Este tratado incluía a renúncia mútua a toda e qualquer exigência de ordem financeira, incluindo as reclamações alemãs relativas aos decretos soviéticos de nacionalização, «na condição de o Governo da RSFSR não satisfazer reclamações semelhantes introduzidas por outros Estados» . Sublinhemos que a Rússia soviética se manteve coerente com a posição que o Governo soviético tinha adoptado nas suas propostas de paz desde o primeiro dia da revolução: uma paz sem anexações nem indemnizações. Recordemos que o Império Alemão tinha imposto à Rússia em Março de 1918 condições draconianas, no Tratado de Brest-Litovsk, anexando territórios russos e exigindo um resgate de guerra muito pesado. Este tratado viria a ser anulado em Junho/1919 pelo Tratado de Versalhes, no qual as potências ocidentais impuseram à República da Alemanha uma amputação do seu território e indemnizações avultadas. Por seu lado, no Tratado de Rapallo, a Rússia soviética assinou um acordo de paz que incluía a renúncia mútua às indemnizações, apesar de o artigo 116 do Tratado de Versalhes atribuir à Rússia o direito de obter compensações financeiras por parte da Alemanha. Esta iniciativa da Rússia soviética também era coerente com os tratados assinados em 1920-1921 com as repúblicas báltica e polaca.
Outra cláusula do Tratado de Rapallo previa que a Alemanha financiasse a criação de empresas mistas destinadas a reforçar o comércio entre os dois países.
Em resumo, o Tratado de Rapallo, assinado por iniciativa da delegação soviética, deu uma resposta firme à atitude muito agressiva e dominadora das potências ocidentais.
Só depois disso a delegação soviética comunicou a sua resposta oficial às potências ocidentais, reagindo às exigências formuladas por estas a 15/Abril.
Tradução Rui Viana Pereira
Parte 1: Rússia: O repúdio das dívidas no cerne das revoluções de 1905 e 1917
Parte 2: Centenário da Revolução russa e do repúdio das dívidas
Parte 3: A revolução russa, o repúdio das dívidas, a guerra e a paz
Parte 4: A revolução russa, o direito dos povos à autodeterminação e o repúdio das dívidas
Parte 5: A imprensa francesa a soldo do czar
Parte 6: Os títulos de dívida russa após o repúdio
Parte 7: O jogo diplomático à volta do repúdio das dívidas russas
Parte 8: Em 1922, nova tentativa de submissão dos sovietes às potências credoras
Parte 9: O contra-ataque soviético: o Tratado de Rapallo de 1922
Parte 10: Em Génova (1922), as contra-propostas soviéticas face às imposições das potências credoras
Parte 11: Dívida: Lloyd George versus soviéticos
Parte 12 : A reafirmação do repúdio das dívidas é bem sucedida
docente na Universidade de Liège, é o porta-voz do CADTM Internacional.
É autor do livro Bancocratie, ADEN, Bruxelles, 2014,Procès d’un homme exemplaire, Editions Al Dante, Marseille, 2013; Un coup d’œil dans le rétroviseur. L’idéologie néolibérale des origines jusqu’à aujourd’hui, Le Cerisier, Mons, 2010. É coautor com Damien Millet do livro A Crise da Dívida, Auditar, Anular, Alternativa Política, Temas e Debates, Lisboa, 2013; La dette ou la vie, Aden/CADTM, Bruxelles, 2011.
Coordenou o trabalho da Comissão para a Verdade sobre a dívida pública, criada pela presidente do Parlamento grego. Esta comissão funcionou sob a alçada do Parlamento entre Abril e Outubro de 2015.
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